O presidente Bolsonaro não respeita os muitos milhões de brasileiros que votaram pela sua eleição, e ganharam. Assim como também não respeita os menos milhões de brasileiros que votaram para evitar sua vitória eleitoral. E perderam. Ganhar ou perder é próprio da democracia, para todos aqueles que a respeitam e consagram como o único regime decente e perfeitamente adequado para a humanidade. Os demais foram desvios criminosos e autoritários contra a dignidade do ser humano.
Ser eleito não significa apenas assumir o cargo, administrar e exercer a função política dele decorrente. É preciso atuar com seriedade e competência, na medida em que deve, ao longo do mandato, demonstrar decência e dedicação ao país que deverá servir e à população que nele votou com esperança de melhoras. E formar um novo governo à altura do que necessita o país e sua população. Dois anos se passaram e o Brasil demonstra estar ainda mais confuso e agitado, além de radicalizado na condução política. Radicalização, aliás, generalizada, na conduta politica, nas reuniões de ministério, nos xingamentos e palavrões presidenciais, nas provocações aos meios de comunicação.
Falta de educação doméstica, falta de espírito cooperativo, impaciência, explosões de adolescente, desrespeito à convivência com autoridades estrangeiras e descumprimento de normas diplomáticas, abuso contra Joe Biden, adoração a Donald Trump, e por aí vai. Chega? Insultos a uma senhora, colocando o estupro como brincadeira. Algo natural, talvez, no seu torpe imaginário. Tudo isso para V. Excia. – olha só o que é educação! – pode ser considerado engraçadinho, além de outras grosserias, mas na verdade trata-se de falta de respeito com o povo brasileiro. E com as normas civilizadas de qualquer país.
O cargo máximo de uma Nação não pode ser – utilizado, desfrutado, desconsiderado – de nenhuma dessas formas. Deve ser o cargo onde o ocupante dê exemplos de civilidade e compostura ao povo que governa. Desta forma receberá o reconhecimento popular. A radicalização tem sido provocada e estimulada pelo próprio presidente da República, em atitude de desrespeito ao povo brasileiro, que dele não merece esse tratamento. O comportamento de um Chefe de Governo deve ser correto, educado, amistoso, respeitoso. Algo que favoreceria o entrosamento e a convivência entre governantes, oposição e governados.
O temperamento do ocupante do Planalto é reconhecidamente explosivo. Chegou a ter atritos no próprio Exército, ao discutir questões salariais, objetivo até elogiável, em 1987, sendo em consequência reformado. Houve atrito, em vez de negociação. Ano seguinte entrou na política e começou a carreira como vereador. Em sua nova área de atuação, seria mais fácil desenvolver o tal temperamento explosivo do que no Exército, o que acabou acontecendo. Dedicando-se à politica chegou à presidência da República depois de uma longa permanência como deputado. O Planalto parece que desenvolveu mais ainda o espírito belicoso do capitão.
Os brasileiros andam chateados com tanta confusão. O país não se entende ou o presidente é que não se entende com ninguém. Brigas com parlamentares, com ministros, logo defenestrados, com governadores, especialmente o de São Paulo, que é baixinho. Que absurdo! E o Brasil, de quem ele deveria cuidar melhor, está em terceiro lugar no mundo entre mortos e acometidos pela pandemia.
Papai Noel e o Menino Jesus não poderão resolver o problema da instabilidade emocional do capitão-presidente. Mais dois anos de briga ou de apaziguamento e conciliação? Aos brasileiros, acompanhem e façam suas apostas, antes que as pistolas e revólveres sem imposto entrem na brincadeira. Pode ser também que, assim como a coronavirus, a bagunça oficial também esteja no finalzinho.
— José Fonseca Filho é jornalista