A barganha do Centrão com o PT é anistiar a corrupção

A direção do PT deve decidir nessa sexta-feira se aceita ou não a pauta imoral proposta por Arthur Lira. O PSB já indicou que topa. Eduardo Cunha deve aplaudir o desempenho do discípulo.

A pesquisa XP / Ipespe aponta o presidente Bolsonaro e seu antecessor, Lula, como os postulantes mais citados pelos eleitores para as eleições de 2022

É um pesadelo político que tempos atrás pareceria inacreditável. O PT foi um partido decisivo, desde o início do movimento em paróquias e dioceses na década de 1990, que se tornou vitorioso com a Lei da Ficha Limpa, sancionada em 2010 pelo então presidente Lula. Pois bem. No seu flerte para obter o apoio do PT a sua candidatura à Presidência da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), notório corrupto, se propôs a compromissos que são um retrocesso no combate à corrupção política no país. A elas, fiz em forma de Decálogo, uma coluna histórica no Jornal de Brasília na luta pela liberdade de expressão no auge da ditadura militar:

  1. Mudar a Lei da Ficha Limpa;
  2. Engavetar o projeto de cumprimento de pena a partir da condenação em segundo grau;
  3. Recriar com nova roupagem o Imposto Sindical, um modelo criado pelo fascismo na Itália, responsável por uma verdadeira carreira de pelegos no Brasil.
  4. Três propostas que afrontam toda a pregação do PT em sua criação em 1980, no Colégio Sion, em São Paulo. Sua principal inspiração era o então novo movimento sindical que combatia o peleguismo e todas suas formas de financiamento.
  5. Deputado Zeca Dirceu, do PT – Foto Orlando Brito

    A questão nem é a esperteza de Arthur Lira, candidato do presidente Jair Bolsonaro, em identificar pontos que podem sensibilizar o PT. É o partido e outras forças de esquerda conversarem com naturalidade sobre uma pauta tão vergonhosa. Lira pediu uma conversa com Lula. De acordo com os jornais, já teria conversado com José Dirceu. Parece ter sido boa. “Vou aguardar a decisão da Executiva Nacional e também as reuniões com os candidatos, mas a minha tendência é pela composição”, disse a O Globo o deputado Zeca Dirceu, filho de José Dirceu.

  6. A Executiva Nacional do PT deve decidir nessa sexta-feira qual o caminho vai tomar. As alternativas: se aliar ao bloco de centro-direita organizado por Rodrigo Maia, aderir ao candidato de Bolsonaro ou seguir um rumo próprio para marcar posição no primeiro turno da votação. Essa terceira opção bate de frente com o pragmatismo do partido que não quer de novo ficar fora da Mesa da Câmara.
  7. Carlos Siqueira, presidente do PSB – Foto Orlando Brito
    Arthur Lira e Ciro Nogueira – Foto Orlando Brito

    O PSB, outro partido de esquerda, já aprovou um indicativo para apoiar Arthur Lira. E de olho em algum poder na Câmara, o partido finge que é apenas um joguinho interno dos deputados. “Essa questão da Mesa não envolve ideologia, governo ou oposição”, afirma com cara limpa o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.

  8. Deputada e ministra Teresa Cristina – Foto Orlando Brito

    Ao sair do Palácio do Planalto, o presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, escancarou o jogo. Arthur Lira nem é o seu candidato preferido, acha que seria melhor a ministra da Agricultura, Teresa Cristina. “Mas vou apoiar o candidato do Bolsonaro”. Papo reto, né.

  9. Arthur Lira teve uma conversa por vídeo conferência com o PC do B, um partido que sempre teve um xodó com Rodrigo Maia e por ele foi correspondido. Teve deputado comunista que, depois dessa conversa, disse que um mérito de Lira é que ele “mantém a palavra e cumpre acordos”. Isso sempre foi dito, aliás, sobre o principal mestre de Arthur Lira nos meandros da Câmara, o ex-deputado Eduardo Cunha, de quem ele foi braço direito durante o seu polêmico e corrupto reinado no Parlamento.
  10. Em sua live nas redes sociais nessa quinta-feira, Jair Bolsonaro citou todos os partidos pelos quais transitou, alegou que pulou de um para outro por questão de sobrevivência eleitoral, em um declaração que soou como `o Centrão sou eu`. E sentenciou: “Isso de ficar satanizando partido não existe”. Parece um convite a uma orgia geral contra o combate à corrupção. O que mais impressiona é que seduz. A conferir.
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