Há um ano foi realizada com toda pompa e circunstância a convenção nacional para o lançamento do Aliança Pelo Brasil, partido concebido pelo presidente Jair Bolsonaro para se tornar a maior legenda de direita da América Latina. Após brigar com a direção do PSL por causa do Fundo Eleitoral, Bolsonaro acreditou que a solução para os seus problemas seria criar o próprio partido, pois só assim poderia impor suas vontades aos filiados – meu partido, minhas regras.
A cerimônia foi concorrida. Contou com a presença de todo clã Bolsonaro e de quadros importantes da política nacional. Os bolsonaristas acreditavam que escorados na popularidade do presidente recém-eleito, que na época ainda se mantinha elevada apesar das brigas da família com Deus e o mundo, não teriam dificuldades para a criação da nova legenda.
Na época, apoiadores mais entusiasmados diziam que em três meses o Aliança já teria alcançado as 492 mil assinaturas de apoio exigidas pela legislação para garantir o registro junto à Justiça Eleitoral. Não foi o que aconteceu.
Bolsonaro e sua trupe descobriram na prática que os robôs das redes sociais, que fazem tanto barulho no mundo virtual levantando hashtags a favor do presidente ou contra seus adversários, no mundo real não têm grande serventia. Afinal, robôs não assinam ficha de filiação partidária, assim como também não votam.
O resultado é que até julho deste ano, haviam sido validadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pouco mais de 3% do total de assinaturas necessárias para a criação de um novo partido. Um verdadeiro fiasco para quem se acha um mito. Pelo ambicioso script inicial, o Aliança seria o principal partido de direita no Brasil, transformando legendas como o PSL em partidos satélites do bolsonarismo. Até agora nada disso se confirmou. Com o revés do primeiro turno das eleições municipais, o presidente começa a repensar sua estratégia, afinal, 2022 tá logo ali.
O Centrão, como não gosta de perder tempo, já começou a se movimentar. Feliz com o resultado das urnas, o presidente do PP, senador piauiense Ciro Nogueira, não perdeu tempo e já convidou Bolsonaro a se filiar novamente ao partido (Bolsonaro já foi filiado ao PP e a outras 9 legendas ao longo da sua carreira política).
Bolsonaro parece ter gostado da ideia, afinal, o PP é um partido estruturado, com diretórios formados em quase todo o País. As urnas mostraram que, apesar de ser a sigla com maior número de investigados nos recentes escândalos do Mensalão e do Petrolão, os eleitores não parecem se preocupar com esses fatos. Aliás, o presidente Jair Bolsonaro também não. Afinal, o que é o mensalão pra quem convive com “rachadinhas”?
Pra quem se elegeu prometendo acabar com a velha prática do toma lá dá cá na política e combater a corrupção no estado, a filiação a um partido com o histórico do PP revela, no mínimo, que Bolsonaro cometeu estelionato eleitoral. Prometeu, mas não cumpriu.