Como era previsível, o presidente Jair Bolsonaro quebrou a cara ao fantasiar que seria um grande eleitor no pleito municipal. Ele chegou a divulgar nas redes sociais uma listinha com seus candidatos a prefeito, a vereador e até a senador numa eleição extemporânea em Mato Grosso. Apagou a postagem quando se tocou que era um vexame, mas já era tarde.
Sua maior aposta errada foi em Celso Russomanno, conhecido cavalo paraguaio nas disputas em São Paulo. Só que dessa vez Russomanno teve seu pior desempenho nas três tentativas de se eleger prefeito da capital paulista. Ficou em quarto lugar. O apoio de Bolsonaro foi um tiro em seu pé. Diferente de 2018, quando seus candidatos bateram recordes de voto, até seus indicados para vereador em São Paulo não foram bem votados.
Em Manaus, Santos, Belo Horizonte e Recife seus candidatos tiveram desempenho pífio. Em Fortaleza, o Capitão Wagner que conseguiu chegar ao segundo turno dispensou o apoio de Bolsonaro. No Rio de Janeiro tudo indica que sua manifestação a favor da reeleição do prefeito Marcelo Crivella o ajudou a chegar ao segundo turno. Mas o vereador Carlos Bolsonaro, o 002, que apostava em ser o mais votado teve menos 35 mil votos que na eleição de 2016. Sua mãe, Rogéria Bolsonaro, teve um desempenho ruim e não se elegeu. O mesmo ocorreu em Angra dos Reis onde Wal do Açaí, uma funcionária fantasma do hoje presidente da República se candidatou a vereadora com o nome eleitoral de Wal Bolsonaro. Obteve poucos votos e não se elegeu. Bolsonaro também não emplacou outro nome de sua listinha — Deílson Bolsonaro, que teve uma votação pífia na disputa por uma cadeira na Câmara de Vereadores de Boa Vista.
Nessa mesma listinha, Bolsonaro manifestou apoio à candidatura da Coronel Fernanda da PM na eleição para uma vaga no Senado que foi aberta pela cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral da ex-senadora Selma Arruda e de seus suplentes. Ali quem venceu foi Carlos Fávaro, que havia ocupado interinamente a cadeira de Selma no Senado. O sobrenome eleitoral Bolsonaro que tanto sucesso fez em 2018 agora virou marca de fracasso.
Ele passa recibo, mas sem dar o braço a torcer. Segue a mesma linha de seu ídolo Donald Trump na eleição presidencial no Estados Unidos. Nas redes sociais, Bolsonaro fez a seguinte avalição sobre o resultado das urnas: “De concreto partidos de esquerda sofreram uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar. Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado.”. Essa referência à mudança do sistema eleitoral é o retrocesso da urna eletrônica para o voto em cédula, uma batalha sem a menor chance de vitória.
Quando tenta jogar sua derrota no colo das esquerdas, Bolsonaro mira em Lula e em outro mal desempenho eleitoral do PT. Em seus momentos de glória, o PT foi o principal partido no campos das esquerdas nas capitais e nas grandes cidades. Bem diferente de hoje. Por exemplo, nas três principais capitais do Sudeste — as mais populosas com os melhores PIBs — o desempenho do PT foi muito ruim. Em São Paulo e Belo Horizonte, cidades que já governou, abertas as urnas ficou em sexto lugar. Guilherme Boulos engoliu o PT em São Paulo e vai disputar o segundo turno com o prefeito Bruno Covas. Nilmário Miranda, um quadro histórico do partido, teve votação de nanico em Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, a ex-governadora Benedita da Silva ficou em quarto lugar, atrás de Eduardo Paes, Marcelo Crivella e a delegada Martha Rocha.
Mesmo tendo o governo da Bahia, a candidata petista não conseguiu levar a eleição para o segundo turno em Salvador, vencida com ampla vantagem por Bruno Reis, do Democratas. Em São Bernardo do Campo, berço do PT, Luiz Marinho, estrela do partido e ex-prefeito da cidade, tomou uma tunda histórica do tucano Orlando Morando. Desde as eleições de 2016, o ABC paulista deixou de ser uma cinturão vermelho. Em Santo André tomou outra surra. O PT chega ao segundo turno em Vitória e Recife com seus candidatos em segundo lugar. Vai bem também em São Gonçalo, no Rio, e em Diadema e Guarulhos, em São Paulo.
Pelo que havia contabilizado até a madrugada dessa segunda-feira (16), os partidos mais conservadores foram os grandes vitoriosos no país. MDB, PSDB, DEM, PP, PL elegeram mais prefeitos. O PDT saiu melhor nas esquerdas. Lula e o PT continuam pagando pelos malfeitos em seus governos. Bolsonaro também.