O mundo todo acompanhou com muita atenção as eleições americanas, com torcida a favor e contra Donald Trump. Acho sinceramente que poucos torceram por Biden, a maioria que desejava a derrota de Trump, votaria, no caso dos americanos, ou torceria, no caso dos que assistem de fora, em qualquer um que aparecesse para desbancá-lo.
Trump, assim como Bolsonaro, tem um fã clube que tudo curte, aceita e defende. Aliás, quanto mais bobagem ele fala ou faz, parece que mais fidelizada fica a sua claque. Em um artigo publicado no Correio Braziliense, Roberto Brant escreveu sobre Trump: “Seu desprezo temerário pela ciência, sua aversão à cultura, seu elogio da violência, do ódio, da intolerância e sua capacidade de mentir sobre as coisas mais sérias, encontraram o apoio, o aplauso de uma população maior do que a maioria dos países do mundo”.
Sou curiosa e usuária, quase dependente, da psicologia, por isso, quando vejo pessoas que eu julgava normais, interessantes, até inteligentes, defendendo com unhas e dentes o boçal de lá (ou o daqui) eu apelo para Freud, Jung e os meus muitos anos de terapia. Só assim para entender o que leva alguém a romper com os avanços do mundo civilizado, por mais questionáveis que sejam alguns, para aplaudir comportamentos e discursos ultrapassados, muitos típicos da barbárie. Deve ser culpa das sombras, muito tempo adormecidas!
Mas nem era disso que eu queria falar. Juro que comecei esse texto pensando em elogiar Donald Trump. Não por seu topete, nem por seu bronzeamento pra lá de artificial. Nem pela elegância que, apesar de seus assumidos e questionáveis milhões de dólares, ele não possui. Quero elogiar Trump pelo seu vigor. Uma coisa, aliás, me chamou a atenção nas eleições americanas: a idade dos candidatos. Joe Biden vai completar 78 anos no dia 20 de novembro e Donald Trump completou 74 em junho.
Podemos discordar de um ou de outro, mas os dois dão um show de vitalidade. Joe Biden, com quase 80 anos, e uma sucessão de tragédias no decorrer da vida, encontrou forças para enfrentar uma campanha num país de dimensão continental, andando com altivez e muitas vezes dando umas corridinhas. Trump, apesar de mais pesado, também não deixou a peteca cair e rodou o país de cabo a rabo sem demonstrar fadiga, lutou com garra até o fim. (Alías, continua lutando, porque o fim, para ele, não existe). Os dois, cada um a seu modo, nos mostram que existe vida na terceira idade e que é possível ter sonhos e planos depois dos 70 anos, mesmo que seja o de comandar a maior potência mundial.
As mulheres também estão batendo um bolão! Kamala Harris é um espetáculo e, aos 56 anos, é tratada como a mascote da equipe. Eu, que faço parte desse time (das mulheres de 50 e poucos), passei a me sentir uma garota, que nem a vice recém-eleita. Jill, a mulher de Biden, aos 69 anos, corre todos os dias e quer continuar trabalhando mesmo depois de se mudar para a Casa Branca. Melania, aos 50 anos, continua maravilhosa como sempre foi, embora um pouco triste e apagada. Mas isso a gente entende, afinal ela é casada com o Trump…
Enquanto isso, no Brasil, Celso de Mello foi obrigado a se aposentar porque completou 75 anos. Como ele, outros magistrados e servidores públicos que poderiam, CASO QUISESSEM, continuar a trabalhar e contribuir com sua experiência, são deixados em casa como no Ouro de tolo do Raul, “esperando a morte chegar”. Já passou da hora de o Brasil mudar a maneira como enxerga e trata seus idosos. E dos idosos daqui se espelharem nos de lá, parando de brigar por lugar em filas preferenciais para brigar por lugar de destaque na vida, seja pública ou privada.
Melhor eu parar com essas considerações, antes que decidam fazer outra reforma da previdência. Se resolver seguir o modelo americano, a equipe econômica pode querer aumentar a idade mínima de aposentadoria para 80 anos.