A cinco dias das eleições brasileiras, as pesquisas confirmam que o prefeito Bruno Covas e o ex-prefeito Eduardo Paes já asseguraram suas vagas no segundo turno no páreo pelas capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Nessa reta final o que está em disputa são os adversários da rodada final. Se o primeiro lugar já está assegurado, embolou de vez a disputa pela segunda colocação nas duas principais cidades do país. Divididas, as esquerdas podem ou não chegar lá. E isso atormenta mais os eleitores de esquerda do que seus partidos com a possibilidade de serem atropelados na corrida por Celso Russomanno e Marcelo Crivella.
No Rio de Janeiro, o dilema é ainda maior porque Crivella e Jair Bolsonaro, seu principal apoiador, têm mais bala na agulha para chegar ao segundo turno. Crivella no segundo turno é o sonho de Eduardo Paes e o pesadelo das esquerdas. Como os partidos, por justificadas experiências ou oportunismo, não confiam em pesquisas, ninguém quer abrir mão da possibilidade de chegar lá. Seus eleitores não têm o mesmo comprometimento.
A sugestão de um acordão com a troca de apoios entre o PT e o Psol no Rio e em São Paulo, verbalizada pelo ex-senador Lindbergh Farias quando poderia ser viável, não colou. Se o PT não foi flexível com aliados históricos enquanto poderia ter algum dividendo porque seria agora quando deixou de ter protagonismo? No Rio, por exemplo, o tempo passou pela janela e, segundo as pesquisas, só Martha Rocha, do PDT, é quem tem chance de tirar Crivella do segundo turno e ameaçar a vitória de Eduardo Paes na rodada final. Benedita da Silva em tese pode até chegar lá, seria apenas outra adversária à feição para a vitória de Eduardo Paes. O eleitor sabe disso.
No mundinho cada vez mais estreito das máquinas partidárias de esquerda, é impensável apostar as fichas em Martha Rocha. Seus eleitores, porém, podem pensar diferente. E com isso mudar o jogo no Rio. Em São Paulo é a mesma coisa. Se Guilherme Boulos for a única opção dos eleitores petistas terem alternativa no segundo turno, a tendência é que rifem o candidato do PT Jilmar Tatto. Boulos pode ser a melhor alternativa para um debate ideológico com o tucano Bruno Covas.
A dúvida é se eleitoralmente será o melhor oponente. As pesquisas indicam que, no chamado campo das esquerdas, o mais competitivo em um eventual segundo turno seria Márcio França – candidato de uma aliança do PSB com o PDT — que provoca desconfiança por, ao mesmo tempo, ampliar seu horizonte de votos ao piscar para tucanos e bolsonaristas.
É nesse quadro que eleitores identificados com a esquerda nas duas principais cidades do país, à revelia de palavras de ordem de seus partidos, podem definir os resultados a partir de opções pragmáticas. É a volta do voto útil, criado para driblar os artifícios contra a vontade popular armados pela ditadura militar. Se vai prevalecer ou não, as urnas dirão.
A conferir.