Sentiu-se humilhado e ridicularizado com a repercussão pública ao seu comportamento extravagante de levar dinheiro roubado na cueca. E foi pouco. O que queria, ser glorificado? Essa foi a resposta merecida dada pela população brasileira à falta de princípios de um cidadão colocado no Congresso para trabalhar em favor de seu Estado. E que agora resolveu se licenciar. Isso é algo factível no Brasil. Mas o tal do Chico não pode ficar simplesmente aguardando o tempo passar e gastando o dinheiro que seria para comprar medicamentos para as vítimas do coronavírus. Quantia da qual que ele e alguns sócios simplesmente passaram as mãos.
Sua criatividade foi reconhecida pelo setor industrial, imune à política e sempre atrás de novidades e lucros. O Chico Senador fechou contrato para trabalhar numa fábrica de cuecas, e se declara animado com as perspectivas. A primeira ideia do Chico foi aprovada e deixou os empresários satisfeitos. Colocar no mercado uma cueca inovadora, de tecido impermeável, meio plastificado, a fim de preservar a qualidade do produto transportado. Já com sua marca registrada: “Cifrão”. E o slogan: “Cifrão, protege o seu milhão”. Na verdade, não deixa de ser um transporte de valores.
A indústria só rejeitou uma proposta do Chico Senador. Ele queria fabricar uma cueca enorme, batizada de Big Band, para gordos. Dá para colocar mais dinheiro, dizia. Mas gordo não consegue correr da Polícia, argumentou um diretor. Outra do ex-nobre parlamentar foi aprovada. Todas as cuecas da fábrica teriam um selo de garantia com os dizeres: “Sr. Policial: Recupere o dinheiro mas devolva a cueca.” O Chico era um especialista em “roupas de baixo”, como se dizia antigamente. Sugeriu também à fábrica lançar uma linha de ceroulas, com duas utilidades: combater o clima frio e encher de cédulas até nas pernas. Um talento reconhecido tardiamente, pois poderá ser julgado e condenado, embora isso seja raridade no Brasil, em se tratando de senadores, deputados e vereadores. E atrapalhar sua nova carreira.
Uma coisa ficou constatada: o tal do Chico era uma pessoa criativa. Se bem que algumas de suas ideias, realmente, pode-se até dizer que eram coisas de ignorante. Como a de transportar dinheiro na cueca. Nem colocar muita carga, porque pesa e pode cair. Foi por isso que o policial descobriu o crime do Chico. No Brasil acontece de tudo. Cabral chegou aqui sem querer. E o Pedro proclamou a Independência mas não houve riacho nem grito de morte. Trata-se de uma pintura.
O Chico Senado, ou Chico Cueca, como quiserem, se sentiu humilhado. Mas isso não impediu sua criatividade e interesse pela indústria têxtil de roupas íntimas. Aborreceu-se com a recusa de algumas de suas criações, que considerava páreo duro se comparadas às de Pierre Cardin. E mandou suas últimas criações para a diretoria da fábrica, propondo até desfiles. As principais novidades: cueca com três bolsinhos internos, para real, dólar e euro; com mini desodorante, por motivos óbvios; com bolsinho de éclair, para moedas; e de cor rosa, para ladrão gay. E ainda – o mais caro – sensor de bateria para dar choque na mão de policial curioso.
No Brasil existe uma coisa chamada suplente de senador. Funciona assim: se o senador desiste, falece, é cassado, desistiu do cargo, ou qualquer acidente inesperado, seu suplente assume o mandato. Tem vários suplentes. Se um senador é expulso do Congresso, por desonrá-lo, o primeiro suplente assume a vaga. O primeiro suplente do Senador carregador de dinheiro na cueca é o seu filho. Filho assumir o mandato do papai senador punido deveria ser proibido. O salário e as vantagens materiais do papai senador passarão para o herdeiro. Pode? Aqui pode.