A direção nacional do PT orientou os candidatos do partido país afora a comemorar na propaganda eleitoral do dia 27 de outubro o aniversário de 75 anos do ex-presidente Lula. A ideia é difundir o #anula STF, uma campanha para que o Supremo Tribunal Federal anule investigações, processos e condenações de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. Até aqui trata-se de uma pregação sem sucesso de público nem de crítica.
Ao insistir nessa balada de uma nota só, o PT se isolou nas esquerdas, concorre praticamente sozinho com cerca de 60 candidatos nas 95 cidades com mais de 200 mil eleitores, em poucas com chances reais de vitória. De acordo com as pesquisas do Datafolha e do Ibope, são raras as capitais, como Vitória e Fortaleza, que o partido se mostra competitivo. Na grande maioria faz parte do pelotão de baixo, como em Belo Horizonte, onde já foi tido como imbatível, em que o ex-ministro Nilmário Miranda, quadro histórico do partido, está na rabeira, comendo poeira entre os nanicos.
Na ótica de seus antigos parceiros na esquerda, como o PSB e o PDT, é justamente essa insistência em uma suposta candidatura presidencial de Lula, mesmo barrada pela Lei da Ficha Limpa, o motivo da discórdia em 2018, nesse pleito municipal e provavelmente nas eleições de 2022. É também o que embasa a opção por saias justas como em São Paulo, onde insiste na candidatura de Jilmar Tatto embora boa parte de seu eleitorado já tenha optado pela dobradinha de Guilherme Boulos e Luísa Erundina.
Essa estratégia desagrada a lideranças do próprio PT. Ouve-se queixas públicas ali e acolá. Só não são maiores porque a turma evita bater de frente com Lula, que inspira e respalda o jogo da burocracia que comanda o partido. O alvo das críticas costuma ser a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, como se ela tivesse algum poder. Só faz o que o mestre manda. De Glesi e Markus Sokol, secretário de Comunicação do PT, partiu a ordem aos candidatos do partido para o dia de homenagem a Lula. Dizem eles que é até espontânea. “Não é contra a vontade dele, mas não foi ele que pediu. Lula é superparcimonioso. Ele diz que é o último que poderia pedir essas coisas”, diz Sokol.
Ao apostar todas as cartas em uma improvável anulação das condenações judiciais de Lula o PT acaba entrando no jogo do presidente Jair Bolsonaro. É por isso que vai votar nessa quarta-feira (21) a favor da indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal. Já mostrou boa vontade nessa terça-feira na votação que aprovou a ida de Jorge de Oliveira — ministro palaciano da copa e cozinha do clã Bolsonaro – para o Tribunal de Contas da União. É a esperança de uma suposta mãozinha de Bolsonaro na Justiça. Por mais que pareça inacreditável.
Nessa terça-feira, por exemplo, enquanto a cúpula do PT tentava por a tropa na rua com #anula stf, o Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negou sete recursos da defesa de Lula que busca incessantemente brechas para anular as investigações da Lava Jato e as sentenças do ex-juiz Sérgio Moro, referendadas em instâncias superiores.
A expectativa de que o STF vai anistiar Lula e matar a Lava Jato e outras grandes investigações sobre corrupção, estimulada por alguns ministros como Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, pode ser uma miragem para devotos. Durante o confuso comando de Dias Toffoli, e os acordões com a cúpula do Congresso e Jair Bolsonaro, o jogo parecia decidido. A troca de guarda no STF com o bastão passado para Luiz Fux mostrou que não é bem assim. Mesmo que fosse nada garante o aval de Bolsonaro – e de um ministro para o STF escolhido a dedo por ele – a uma espécie de ressureição de Lula.