Mais um corrupto no Congresso, para indignação do povo brasileiro e, ao mesmo tempo, a sensação de que trata-se de um fato corriqueiro, desses que parecem inútil combater. Sempre surge mais um bandido, às vezes até original, embora trate-se de elementos que deveriam estar, há tempos, fora da convivência com a sociedade. Ou seja, julgados, condenados e na cadeia. Personagens de todo lamentáveis e repugnantes, absolutamente desprovidas de caráter e senso de decência, além do deboche com o povo que os elegeu, continuam surgindo. Por isso os brasileiros votam cada vez menos. E o Congresso assiste tudo, esperando que os criminosos tomem a iniciativa de renunciar.
A nova peça, a ser execrada radicalmente pelos brasileiros, se o Congresso não o fizer, é um senador chamado Chico Rodrigues, vulgo Cueca de Ouro. Todo bandido que se preza tem a alcunha significativa do que ele realmente é. O Cueca de Ouro, devido a suas incursões no dinheiro público, é milionário e tem contas em vários bancos, daqui e de paraísos fiscais. Mesmo assim o pilantra costumava guardar seu dinheiro na cueca, por achar que era mais seguro. Ninguém realmente iria passar a mão naquele recanto do corpo humano para ver se tinha dinheiro. Mas tinha. E foi o acaso que fez os policiais descobrirem os R$ 18 mil no traseiro de Sua (minha não) Excelência. O Chico perguntou: – Seu Guarda, posso ir ao banheiro? O guarda autorizou mas estranhou o volume da carga e confirmou que se tratava de um ladrão.
Em nossa queridíssima e gentil pátria amada, a bandidagem de políticos já virou deboche na sociedade, devido à repetição. E isso tem sido levado na chacota, na brincadeira. Compreensível, mas não pode assim continuar. Nada de pedir ao senador para renunciar, ao partido para excluí-lo dos quadros, nem levar o caso à avaliação da Comissão de Ética. Ladrão tem ética? O que precisa ser feito, por quem de direito, é cassar simplesmente o mandato do tal senador, aplicar-lhe algumas multas e promover ação na justiça contra o traidor do povo de Roraima. O moleque tem que prestar contas de seus atos. E o povo brasileiro parar com a brincadeira de levar bandido só no deboche. Tem que avaliar com rigor e cobrar punições severas.
Tais casos contribuem para a crescente desmoralização do Congresso, com desinteresse popular pelo acompanhamento de seus trabalhos. Que já não é assim tão volumoso . Período de eleições, como estamos atravessando, o Legislativo poderia fechar para balanço, se tiver elementos para esse trabalho. Caso contrário, folga geral para deputados e senadores, assim como para os deputados estaduais e vereadores. Os escândalos proporcionados por parlamentares desqualificados se repetem. Já nesta véspera de eleição, vários foram presos por algum motivo, em vários Estados, e todos se defendem da mesma forma. Dizem serem vítimas de perseguição política e acusados de atos que viriam a prejudicar suas eleições.
O desastre causado por parlamentares como Chico Rodrigues se agravam devido a eventual relação deles com outras autoridades ligadas ao Congresso, ampliando o leque de desmoralização política. O tal Chico era vice-líder do presidente Bolsonaro, e levou dinheiro do governo de Roraima e em gastos de verbas do Congresso. Até, suprema calhordice, se apropriou de verbas para a compra de remédios contra a coronavírus em seu Estado. As explicações produzidas não convencem parcelas mínimas da opinião pública. Esse tipo de liderança no governo causa prejuízos e não promove apoio, mas são personagens ligadas ao presidente da República por laços de amizade e consideração. Eles geralmente se relacionam bem.
O mundo atravessa período problemático devido à pandemia. Enquanto a vacina não chegar, e já com a retomada da infecção nos maiores países europeus, a situação pode piorar. Nosso Brasil continua longe de ser considerada uma Nação socialmente organizada e progressista. A pobreza, a criminalidade e a violência estão se eternizando. A representação popular, através das Casas Legislativas, está longe de ser profícua. Jurista solta bandido perigoso, senador vice-líder do governo pratica corrupção e se exibe com atos insólitos para esconder o dinheiro. Coisas que os brasileiros lamentam profundamente, e não querem mais suportar.
— José Fonseca Filho é Jornalista