Meirelles na caverna de Ali Babá

Henrique Meirelles se filia nesta terça ao MDB e deixa a Fazenda até o fim da semana, animado com a possibilidade de se tornar o candidato do partido e do governo à presidência. À primeira vista, as esperanças têm lógica, depois do desgaste da Operação Skala, que prendeu e soltou três dos melhores amigos do presidente Michel Temer e desidratou sua candidatura à reeleição. Só que essa não costuma ser a lógica do MDB-PMDB.

Em Brasília, até as emas do Alvorada sabem que Meirelles caminha inexoravelmente para ser traído. Ex-executivo que enriqueceu nos altos cargos no mercado financeiro, mas relativamente neófito nas transações da política, Meirelles não é alvo nos escândalos de corrupção em voga no Brasil de hoje. Não se tem notícia de que tenha participado de nenhum deles, e no governo tem sido visto até como um certo obstáculo a esquemas políticos que tomaram conta de órgãos como a Caixa, por exemplo.

O ainda ministro da Fazenda tem tanto a ver com os peemedebistas como aquele garoto engomadinho, de óculos e livro debaixo do braço, que dá de cara na esquina com a turma de moleques da pesada que acabou de descer do morro.

Com muito dinheiro para gastar, e uma lei que permite o autofinanciamento praticamente ilimitado da campanha, Meirelles será cercado pela turma com agrados, tapinhas no ombro e uma conversa mole de companheirismo. Em pouco tempo, porém, começará a levar rasteiras, chutes na canela, pescoções e dedo no olho. Vai ter que entregar a carteira, o celular e tudo o mais. Vai acabar liso, de pé no chão, em plena praça. Sem presidência da República, é claro.

A única dúvida das raposas políticas mais malvadas de Brasília é se Meirelles será traído pelo MDB-PMDB antes da convenção de julho em que espera obter a candidatura ou se irá mais adiante, sendo cristianizado durante a campanha eleitoral.

Ou seja, ninguém sabe se será modelo Itamar Franco-Garotinho, dois experientes políticos que acreditaram na conversa da candidatura presidencial e foram chutados em plena convenção peemedebista, ou se o modelo será Ulysses Guimarães-Orestes Quércia. Esses dois últimos, embora grande próceres do partido, conseguiram ser candidatos mas foram abandonados pela legenda Brasil afora, terminando a campanha com resultados pífios.

Nada indica que, com “P” ou sem “P”, o velho MDB de guerra tenha mudado.

Deixe seu comentário