Após 2001, o dia 11 de setembro ficou marcado como uma data mística para a humanidade, devido aos atentados às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Exatamente 17 anos depois do fato histórico, a data pode ser usada para chacoalhar a disputa presidencial no Brasil, por parte do PT e sua grande liderança, o ex-presidente Lula.
Mesmo sabendo que a possibilidade de Lula conseguir se candidatar é nula, por causa da Lei Ficha Limpa, o PT mantém sua pré-candidatura em pé e promete registrá-la no Tribunal Superior Eleitoral, no dia 15 de agosto. A postura petista está de acordo com a lei, que permite o registro da candidatura, cabendo ao Ministério Público ou qualquer outro que se sentir prejudicado, pedir a cassação do registro depois. Os prazos estimados dão conta que uma decisão final sobre a candidatura, que deverá ser cassada, acontecerá até 15 de setembro.
Lula segue preso em Curitiba, sem poder participar de sabatinas, debates e entrevistas, tampouco quaisquer atos de campanha. Recentemente, além de ter pedidos de liberdade negados pelos órgãos superiores, também teve os pedidos para dar entrevistas rejeitados pela juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execução Penal. Mesmo assim, quando incluído nas pesquisas de intenção de voto, lidera contra os demais adversários, tanto no primeiro quanto segundo turno, fato inédito na redemocratização brasileira.
Não é possível prever se o PT vai, de fato, registrar a candidatura de Lula ou acionará seu plano B já na largada da corrida presidencial, tampouco se o ex-presidente estará liderando a corrida presidencial até meados de setembro. Entretanto, o PT pode trabalhar com esse cenário e fazer da retirada de Lula da disputa um verdadeiro espetáculo, utilizando a única forma de contato que Lula terá com o público antes da eleição: o depoimento ao juiz Sergio Moro, na Ação Penal que trata da reforma do Sítio em Atibaia, marcado para 11 de setembro.
Sempre gravados e liberados ao público após o encerramento, os depoimentos já serviram para Lula alfinetar Sergio Moro e fazer propaganda de si mesmo. Em 11 de setembro, pode ser o palanque ideal para o ex-presidente renunciar à candidatura e indicar o seu escolhido para governar o Brasil. Tudo isso, diante do inimigo número 1 do petismo atualmente, visando reforçar a narrativa de “perseguido político” do ex-presidente.
Além de indicarem a liderança de Lula, as pesquisas mostram que o ex-presidente apresenta um alto potencial de transferência de votos. Entretanto, esse potencial pode esbarrar nas limitações do petista em fazer campanha e na capacidade do ungido por Lula absorver os votos. Fernando Haddad, por exemplo, deve enfrentar imensas dificuldades, tanto por ser quase um tucano travestido de petista quanto pela péssima avaliação com que saiu da prefeitura de São Paulo.
Difícil prever se a estratégia petista obterá êxito eleitoral. Porém, uma retirada de Lula durante um depoimento para Moro teria impactos tsunâmicos na corrida presidencial e, principalmente, reforçaria a narrativa política criada pelo petismo, que aparentemente tornou-se a maior preocupação do partido.
*Victor Oliveira, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar). E-mail: ep.victor.oliveira@gmail.com