Os últimos dias foram de notícias ruins nas hostes bolsonaristas. A pesquisa IBOPE mostrou queda de 15 pontos, desde janeiro, na popularidade do Presidente da República. Com 34% de ótimo e bom, Bolsonaro é o mandatário mais mal avaliado nessa fase do mandato, com desempenho pior que o de FHC, Lula e Dilma. Como se isso não bastasse, houve rusgas públicas entre integrantes do governo Bolsonaro e figuras proeminentes do Congresso Nacional, principalmente Rodrigo Maia, Presidente da Câmara. Maia, inclusive, declarou que não vai mais buscar votos pela aprovação da Reforma da Previdência, deixando a tarefa para Bolsonaro e seus articuladores.
A posição do chefe da Câmara representa a insatisfação de diversas bancadas partidárias, que se sentem escanteadas pelo governo na distribuição de cargos estratégicos na gestão federal, além de recursos e obras em seus estados. Caso não haja mudança radical de rumo, o desgaste de Bolsonaro no Congresso tende a aumentar nos próximos dias. No meio desse fogo cruzado, está o ministro e ex-juiz Sergio Moro, o qual foi pivô de uma polêmica em torno da tramitação de seu projeto anti-crime. Como Bolsonaro foi eleito na esteira das revelações, condenações e prisões da Operação Lava-Jato e depois levou Moro, símbolo máximo da Operação, para o governo, seu enfraquecimento político respinga na imagem da Operação.
Mesmo com a sucursal fluminense da Operação tendo levado à prisão o ex-presidente Michel Temer, o STF demonstra ímpeto para rever artifícios jurídicos que permitiram aos investigadores lograrem êxito nos inquéritos. A reação das Cortes Superiores se dá justamente quando a Lava-Jato está dentro do governo federal e integrantes do Judiciário são alvos de procedimentos da Receita Federal e até um pedido de suspeição feito pelos procuradores de Curitiba. Além disso, setores bolsonaristas articulam a revogação da PEC da Bengala, o que forçaria a aposentadoria de quatro ministros da Suprema Corte imediatamente, permitindo a Bolsonaro alterar substancialmente sua composição.
A primeira derrota imposta pela Suprema Corte à Operação foi a transferência de inquéritos com crimes (como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato) conexos ao caixa 2 para a Justiça Eleitoral. Já está marcado também, para o dia 10 de abril, o julgamento que pode rever a jurisprudência e acabar com a possibilidade de prisão logo após condenação em segunda instância. Caso isso aconteça, será uma derrota gigantesca para a Lava Jato, pois um dos meios de obter delações premiadas decorre do receio do criminoso em ser preso rápido e por período longo de tempo. Outro ponto é que vários dos presos mais ilustres da Operação deixariam a prisão. Entre eles, o ex-presidente Lula, que ainda é a principal liderança do PT e opositor do atual presidente.
Com a revogação da prisão após segunda instância e a consequente soltura de Lula, o STF quebraria de vez as pernas da Operação Lava-Jato e mandaria um recado direto ao atual governo: de que está atento e reagindo à essa pretensa aliança entre setores do Judiciário e membros do governo, com apoio de parlamentares e influenciadores digitais, com vistas a “revolucionar” os poderes do país, incluindo mudanças na composição da própria Suprema Corte.
*Victor Oliveira, é mestre em Instituições e Organizações (DEP/UFSCar) e especialista em Marketing Político e Comunicação Eleitoral