O ano é 1993. Após o impeachment de Fernando Collor, o presidente Itamar Franco segue com dificuldades para emplacar um plano eficiente para debelar a inflação. Em maio daquele ano, decidiu deslocar o então Ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, para a Fazenda. Sociólogo de formação, FHC já se preparava para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, pois via distante o sonho de uma nova eleição para o Senado. Incumbido da missão de salvar a economia, o tucano reuniu uma equipe de economistas para formular um plano capaz de promover a estabilidade monetária.
Pouco mais de um ano depois, foi lançado o Plano Real. O efeito foi quase imediato, com os preços bastante estabilizados, em comparação à terrível era das remarcações diárias nos supermercados. O índice de inflação também estava bem abaixo da casa dos três dígitos. Tal sucesso fez com que FHC, que cogitava nada mais do que uma cadeira na Câmara dos Deputados, se tornasse candidato à Presidência, com crescimento vertiginoso durante a campanha eleitoral e vitória no primeiro turno, contra Lula (PT), apontado como favorito até que o Real passou a anabolizar a candidatura de FHC.
Agora o ano é 2018. Lula apresenta-se como candidato à Presidência, liderando a disputa. Entretanto, como foi condenado em segunda instância, a Lei da Ficha Limpa impede sua candidatura. Para substitui-lo, dirigentes petistas gostariam do ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, que declinou da empreitada para garantir sua cadeira no Senado Federal. Também não foi para a frente uma possível aliança com Ciro Gomes (PDT). A saída foi indicar como vice na chapa lulista o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Após ser fragorosamente derrotado no primeiro turno na eleição municipal de 2016, a carreira política de Haddad era dada como encerrada. Uma eventual candidatura a Governador estava fadada ao fracasso, dada a rejeição acumulada na prefeitura. Porém, no vácuo de lideranças e quadros do PT, Haddad despontou como opção para substituir o ex-presidente Lula na corrida presidencial. O apoio do padrinho garante a Haddad um potencial de votos elevado, próximo dos 40%. Transformar a maior parte desse potencial em votos levará Haddad ao segundo turno, e dependendo do adversário, a uma vitória.
Os dois Fernandos, o Henrique e o Haddad, tem mais em comum do que o nome, a sigla formada com o sobrenome e o acaso de entrar numa disputa presidencial. São oriundos de São Paulo, possuem trajetória acadêmica reconhecida na área das Ciências Sociais, mais precisamente na USP da capital. FHC tentou ser prefeito, chegou a sentar na cadeira antes da hora, mas não logrou êxito, ao contrário de Haddad. Entretanto, o petista tem agora a chance de adicionar mais uma coincidência na trajetória dos dois FHs: subir a rampa do Planalto. A partir de um “acaso”.
*Victor Oliveira, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar). E-mail: ep.victor.oliveira@gmail.com