Desde que assumiu a Prefeitura de São Paulo, João Doria Jr. (PSDB) especializou-se numa prática comum entre pessoas midiáticas: plantar notícias na imprensa. Pode ser sobre hábitos pessoais, como dormir apenas três horas por noite indo até a garantia da participação de Bernie Ecclestone, ex-chefão da Fórmula 1, no leilão do autódromo de Interlagos, prontamente desmentida pelo inglês. Somado às ações de rua, como as limpezas de praças vestido de gari, as notícias eram parte da estratégia de marketing para fortalecer a imagem de Doria junto ao eleitorado.
Entretanto, o marketing é coadjuvante na construção do sucesso de um governo. Doria deixou a prefeitura com menos da metade das promessas de campanha cumpridas, amargando um índice de popularidade tão baixo quanto o de seu antecessor à mesma atura do mandato e embrenhou-se na campanha de governador. Embora esteja mal das pernas na capital, o ex-prefeito tem potencial de crescimento no interior, onde o PSDB obteve a vantagem necessária para permanecer no comando do estado de São Paulo há 24 anos ininterruptos.
Ao contrário das últimas eleições, essa traz novidades e promete ser mais difícil para os tucanos. Além da popularidade baixa de Geraldo Alckmin no estado e Doria na capital, o antagonista do PSDB não é um petista, mas sim Paulo Skaf, presidente da FIESP e filiado ao MDB, um dos principais articuladores e agitadores do impeachment de Dilma Rousseff. As primeiras pesquisas mostram uma disputa dura, com tendência a ser decidida no segundo turno.
Mesmo com o quadro adverso, se comparado às disputas anteriores, Doria tem amealhado apoios à sua candidatura. Já fechou com o PP e com o DEM, que indicará o vice na sua chapa (Rodrigo Garcia) e o apresentador José Luiz Datena como candidato ao Senado, uma das principais novidades da eleição. Com os últimos movimentos, Doria vazou à Folha de São Paulo que “pesquisas internas” indicam queda na sua rejeição e possibilidade alta de vitória no primeiro turno.
A bravata ilusionista do ex-prefeito é insustentável. Nenhum milagre aconteceu nesses dois meses para que o quadro se alterasse tão drasticamente, tampouco Doria desistiu de tentar demover Skaf a trocar a candidatura ao governo pela disputa ao Senado. Porém, ela não acontece por acaso. A candidatura à presidência de seu padrinho político, Geraldo Alckmin, ainda não decolou, e nem parece decolar em futuro próximo. No desespero, figuras de proa da coalizão governista, entre eles o próprio presidente Temer, o presidente da Câmara Rodrigo Maia e o senador Aécio Neves discutem substituir Alckmin por Doria, pelo fato do ex-prefeito ser um melhor produto eleitoral que o ex-governador.
Assim como fazia truques para ser visto como bom prefeito, agora João Doria faz truques para se mostrar imbatível na disputa pelo governo do estado, e assim, fortalecer seu nome para substituir às pressas um anêmico Alckmin na sucessão presidencial. Aliás, desde que venceu a eleição municipal no primeiro turno, Doria acalentou o sonho da Presidência, mas a princípio, aceitou o prêmio de consolação, que foi disputar o governo do estado. Se na prefeitura demorou alguns meses para o marketing perder efeito e a popularidade despencar, agora o balão auto-inflado tem prazo para murchar: a divulgação da próxima pesquisa de intenções de voto para governador.
*Victor Oliveira, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar). E-mail: ep.victor.oliveira@gmail.com