Após uma campanha eleitoral cheia de sinais trocados e bate-cabeças entre integrantes de sua equipe, o presidente eleito Jair Bolsonaro usou a primeira semana após o pleito eleitoral para consolidar sua vitória, obtida por uma margem de 10 pontos percentuais. Logo de início, deu demonstração importante de que o problema fiscal será prioridade do governo, ao alimentar a chance de trabalhar junto ao atual presidente, Michel Temer, para aprovar a reforma da Previdência ainda esse ano. Além disso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, está com carta branca para montar equipe e declarar seus planos, envolvendo privatizações e retirada de subsídios e desonerações fiscais para a indústria.
Com tais medidas, Bolsonaro mantém o apoio do mercado, que pouco antes da eleição apresentava sinais de ceticismo em relação à agenda do novo presidente. Já para o seu eleitor, Bolsonaro reservou uma surpresa: a nomeação do juiz Sergio Moro como Ministro da Justiça e Segurança Pública, num ministério turbinado e com autonomia para desenvolver políticas anticorrupção e anti-crime organizado. A entrada de Moro deixa inequívoco sinal de que o governo vai colocar o combate à corrupção como prioridade, conforme anseavam eleitores do capitão.
De quebra, Bolsonaro ainda voltou atrás da ideia de fundir os ministérios da Agricultura e Meio-Ambiente, após sofrer intensas críticas de diversos setores da sociedade, inclusive dos próprios ruralistas e órgãos internacionais. Para alguém desenhado como ditador/autoritário durante a campanha, é um importante sinal ouvir opiniões divergentes e se convencer a voltar atrás. Segundo Scott Adams, autor de “Ganhar de Lavada”, importa mais às pessoas a maneira como as coisas caminham, do que o estado atual das coisas. Com esse gesto, Bolsonaro vai caminhando para deixar a imagem de ditador.
Enquanto isso, a oposição ainda não se organizou e nem tem um discurso pronto para enfrentar Bolsonaro. Há um confronto escancarado entre Ciro Gomes e PT, já visando o papel de liderança da oposição para 2022, que promete arrastar outros partidos de esquerda para essa briga. Mesmo com a votação expressiva de Fernando Haddad no segundo turno, os petistas ainda são reféns de Lula e sua narrativa de perseguido político, já derrotada nas urnas. Com a nomeação de Moro, os petistas voltaram a bater nessa narrativa. A continuar dessa forma, mesmo com a maior bancada da Câmara e quatro governadores eleitos, o partido vai facilitar o caminho para Ciro Gomes.
*Victor Oliveira, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar). E-mail: ep.victor.oliveira@gmail.com