O sujeito é alto, forte e faixa preta de judô. O outro também. Os dois não se gostam e já discutiram várias vezes. Mas pode estar certo: nenhum vai puxar briga com o outro à toa.
Se possível, ambos vão evitar um enfrentamento, porque sabem que, por melhor que se saiam, qualquer um dos dois está apto a sofrer uma grande derrota.
É assim que o presidente da República em exercício, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se enxergam no momento: não se amam, mas, se puderem, não vão brigar de jeito algum.
Renan precisa do governo Temer ao lado dele. Entre outros motivos, para resistir às denúncias da Operação Lava Jato e aos apupos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu a sua prisão ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Temer, por sua vez, precisa de Renan para aprovar seus projetos no Congresso e tentar blindar a economia contra o estrago na política — especialmente no seu partido, o PMDB — provocado pela mesma Operação Lava Jato. E, principalmente, para aprovar o impeachment no Senado.
Então o jeito, para os dois, é afogar antigos desentendimentos do passado.
Tanto assim que Temer marcou para Alagoas, mais precisamente a cidade de Arapiraca, a sua primeira viagem pelo país na qualidade de presidente da República em exercício, no próximo dia 14. Vale lembrar que Alagoas é o Estado governado pelo filho de Renan, conhecido como Renanzinho. Que, por sinal, está muito bem avaliado nas pesquisas.
De Alagoas, Temer segue para Floresta, em Pernambuco. Vai participar de mais uma dquelas solenidades das obras de transposição do Rio São Francisco. Fará, em suma, um pequeno tour de um dia pelo Nordeste, guiado pelos alertas das pesquisas de opinião.
Segundo a pesquisa CNT/MDA divulgada ontem, o Nordeste é a região onde a presidente da República afastada, Dilma Rossef, e o ex-presidente Lula têm melhor desempenho. E onde Temer tem menores índices de apoio.
52,1% dos nordestinos não aprovaram o afastamento de Dilma do cargo, diferentemente do resto do país, onde 62,4% dos brasileiros defendem que Dilma Rousseff deveria mesmo ter saído. Se a eleição fosse hoje, o ex-presidente Lula teria no Nordeste quase o dobro das intenções de voto do que teria nacionalmente. Lula teria 41,3% de intenções de votos no Nordeste, contra 22 % do país como um todo. Temer, nacionalmente, teria apenas 5,3% de intenções de votos.
Segundo a pesquisa, para 50,3% dos nordestinos, o Governo Temer nada tem de melhor comparado com o Governo Dilma. E 22,2 % dos nordestinos acreditam que o Governo Temer chega a estar pior que o Governo Dilma. Somente 26,1% dos nordestinos aprovam o seu desempenho pessoal à frente do governo. A média nacional de aprovação do presidente é de 33,8%.
Ou seja, Temer tem mesmo por que viajar para a região de Renan. E Renan tem todo interesse em estar bem com o presidente.