Não é só na escolha do vinho que se é obrigado a decidir entre o custo e o benefício.
Se fosse pelo gosto do freguês, se tomaria um Petrus ou um Romanée-Conti todos dias. Mas são rótulos muito caros. Aí o jeito é escolher uma garrafa mais barata, com menos benefício mas também um custo menor.
É essa relação custo-benefício que está sendo levada em conta agora pelo presidente em exercício da República, Michel Temer (PMDB), e pelo presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), em relação ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Qual seria o custo de uma delação premiada de Eduardo Cunha? Qual seria o custo junto à opinião pública de um acordão com ele? Por outro lado, qual o benefício de não haver delação premiada? E se a esse benefício for somada a renúncia, com o deputado abrindo caminho para sua sucessão e destravando a pauta do Congresso?
No encontro com Michel Temer domingo passado – que aos poucos vai sendo revelado – Eduardo Cunha admitiu renunciar, mas cobrou apoio do governo para vários pontos: junto ao Supremo, para tentar que o caso de sua esposa e da filha, que está nas mãos do juiz Sérgio Moro, do Paraná, vá para o fórum do Rio de Janeiro; junto aos partidos aliados, para eleger um sucessor de confiança na Presidência da Câmara e melhorar sua situação na Comissão de Constituição e Justiça, onde será votado um recurso contra a decisão do Conselho de Ética por sua cassação.
Temer ainda está pesando o custo-benefício de mexer com o Supremo Tribunal Federal. No caso da CCJ e da eleição do sucessor de Cunha na Presidência da Câmara, não é grande o custo de acionar deputados da confiança do governo no seu PMDB. Mas será preciso também o apoio do PSDB e do DEM. Aí, para Temer, a movimentação de menor custo foi pedir o apoio de Aécio Neves.
Passou ao presidente do PSDB a decisão sobre o custo-benefício do “Abafa Cunha”.
Aécio Neves não ficou parado. Lançou a seguinte proposta aos deputados de seu partido, do DEM e do PPS: apoiar um aliado de Eduardo Cunha para presidente da Câmara agora, em troca do apoio dos partidos do governo e dos 12 partidos do Centrão liderados por PP, PR, PSD e PTB a um nome do PSDB, do DEM ou do PPS para o comando da Câmara em 2017.
Nesses termos, valeria para Aécio Neves o custo-benefício de um acordo.
O problema é que os deputados do DEM, do PPS e até do PSDB não estão considerando favorável para seus mandatos o custo benefício desse acordão. O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), já protestou publicamente. O DEM não quer abrir mão de uma candidatura própria. E há tucanos de várias matizes reclamando pelos corredores da Câmara.
Afinal, Eduardo Cunha, não é nenhum Romanée-Conti.