O jantar entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e pelo menos 45 senadores na última terça-feira foi classificado como um verdadeiro fiasco por boa parte dos presentes.
Havia sido organizado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para se transformar num verdadeiro acontecimento, um happening estrelado pelo ministro em que ele demonstraria sua força e teria a oportunidade de convencer os senadores a aprovar os projetos do governo com tranquilidade.
Ao contrário, mostrou que Meirelles não tem essa força toda dentro do governo e que já começa a perder as primeiras batalhas. (veja entrevista de ontem do senador tucano Tasso Jereissati a Os Divergentes)
Os senadores viram-se surpreendidos por um ministro da Fazenda sem noção exata de números importantes para as contas públicas – como os reajustes dos servidores -, que havia sido vencido na luta interna do governo para a definição dos valores desses reajustes e que ainda rogava sutilmente aos parlamentares para ajudá-lo a alterar a proposta do Palácio do Planalto.
E não é só essa batalha que o ministro deve perder. Ele também não deve conseguir nomear o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, como ministro do Planejamento.
Já é dada como certa a saída do ministro interino, Dyogo Oliveira, depois que a Procuradoria do Tribunal de Contas da União recomendou seu afastamento, por ter assinado – quando ministro interino da Fazenda do governo Dilma Russeff – um dos 11 decretos que teriam resultado nas tais pedaladas fiscais.
Secretário-executivo, Dyogo Oliveira foi mantido como interino por determinação do ex-ministro e senador Romero Jucá (PMDB-RR), que insiste em atuar como verdadeiro comandante da pasta, para desagrado de Henrique Meirelles.
O ministro da Fazenda resolveu, então apostar suas fichas na designação de Portugal, um nome forte. Mas Jucá manteve-se contra. E, ao que tudo indica, ganhou o apoio do chamado núcleo duro do Planalto, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Governo).
Padilha chegou a dizer a interlocutores que não era o caso de chamar Murilo Portugal porque não seria bom “mais um homem dos bancos” no comando da economia.
Ontem, os dois ministros do Palácio passaram a defender um solução política para a pasta, com um nome indicado por parlamentares.
Inicialmente, se pensou no chefe de gabinete de Renan Calheiros, Vicente Lages, que já foi ministro do Turismo. Agora ganhou força o deputado Marx Beltrão (PMDB-AL), também ligado a Renan, mas que contaria com o apoio dos deputados federais como solução para abrir caminho à indicação de um representante da bancada mineira da Câmara no comando do Ministério do Turismo.
Ou seja, é grande a chance de Meirelles também perder essa batalha.
No fundo, o Palácio do Planalto sabe que o ministro da Fazenda tem que ter alguma força. Mas não quer que ele seja tão forte que o presidente da República perca o controle.