No intervalo entre o primeiro e o segundo turno da eleição do presidente da Câmara, no final de noite de quarta-feira, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) foi ao gabinete da liderança de seu partido para tomar o pulso dos colegas e garantir votos no segundo turno para Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Encontrou um ambiente hostil, sobretudo pela presença de aliados de Marcelo Castro (PI), que havia vencido a disputa na bancada como candidato oficial do PMDB e acabara em terceiro lugar.
Irmão do ministro-chefe da secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, Lucio bateu boca com seu colega José Priante (PMDB-PA), principal cabo eleitoral de Marcelo Castro:
“O governo fez uma canalhice com o partido. Deixou a gente escolher o candidato para depois os ministros ficarem telefonando e pressionando os deputados contra o Marcelo. A verdade é que vocês já se acertaram com o PSDB e o DEM e não querem que a bancada atrapalhe”, disse Priante.
Lúcio irritou-se. Respondeu que Priante não tinha o direito de chamar ninguém de canalha. Argumentou que o erro foi de Marcelo Castro e do próprio Priante, que acharam que podiam se aliar com a oposição contra o Palácio do Planalto.
“Mas o Rodrigo podia se aliar com o PCdoB. O PMDB é que não tinha o direito de buscar votos no PT. É isso? Seus aliados do DEM e do PSDB podem tudo, nós é que não podemos nada. Vocês estão fechados com eles e excluíram o PMDB”, respondeu o Priante.
Lúcio então resolveu sair para não continuar discutindo.
Ainda havia pela frente o segundo turno e não valia a pena alimentar a briga.
Passada a votação, a ordem no governo é pacificar a bancada. O Palácio avalia que a insatisfação entre os peemedebistas é contornável, assim que forem atendidos os pleitos individuais de cada deputado. E que isso vai se acelerar após a votação do impeachment.
Mas não é bem assim. Por trás da candidatura de Marcelo Castro havia também o protesto contra a prioridade estabelecida pelos articuladores políticos do governo na aliança com o PSDB e o DEM — tendo Geddel Vieira Lima como um dos principais formuladores.
A desconfiança é que Geddel e o presidente da República em exercício, Michel Temer, já tenham oferecido aos tucanos a presidência da Câmara em 2017, sem consultar a bancada.
“O acordo está fechado mesmo: o PSDB preside a Câmara no ano que vem e o PMDB fica com a presidência do Senado. Nós, deputados, não levamos nada. Isso ainda vai causar problemas para o governo”, reclamava reservadamente um dos eleitores de Marcelo Castro no dia seguinte.