Senadores aliados da presidente afastada da República, Dilma Rousseff, consideram como decisiva para frear a aprovação do impeachment no Senado a carta que ela enviará aos parlamentares.
A tendência é que o documento seja enviado após a votação da Comissão que analisa seu processo no Senado, o que deve ocorrer na quinta-feira, dia 4. Não se sabe ainda se Dilma enviará no dia seguinte, sexta-feira, ou deixará para as vésperas da votação da pronúncia de seu processo, em plenário, o que deve ocorrer na terça-feira, dia 9.
Mas o conteúdo da carta é que os conselheiros da presidente afastada consideram fundamental.
Apesar do clima bastante contrário a Dilma Rousseff entre os senadores, seus aliados acreditam que ela ainda pode ganhar preciosos votos dependendo da ênfase que der, no texto, à realização de um plebiscito para a convocação de novas eleições.
Serão necessários os votos de 54 dos 81 senadores para aprovar definitivamente o impeachment no final de agosto. Na votação da admissibilidade do processo pelo Senado, 55 votaram contra a presidente.
Agora, para conquistar votos, Dilma “precisaria deixar claro, bem claro na carta” — disse a Os Divergentes um destes senadores — que “mandará imediatamente” ao Congresso uma proposta de convocação do plebiscito, caso seja confirmada no cargo.
Existe uma discussão entre seus aliados sobre o caráter dessas eleições. Há quem defenda que devam ser eleições gerais, para reorganizar o país. Mas essa ideia, naturalmente, mais espanta do que atrai votos dos senadores. Se Dilma deixar claro, na carta, que seriam eleições apenas para presidente e vice, seria mais simpática aos parlamentares que não querem ver antecipado o fim de seus mandatos.
Mas essa é uma questão secundária. Porque o projeto de plebiscito teria mesmo que ser votado no Congresso e só tem chances de passar se for limitado a presidente da República e seu vice. No final das contas, portanto, cabe aos parlamentares decidir se seriam eleições gerais ou não.
Quanto à questão econômica, a ideia é que Dilma diga que pretende continuar com a política de ajuste fiscal, mas sem maiores detalhes para não espantar sua (pequena) base atual, que é contrária ao ajuste.
A dúvida que resta sobre a tal carta é se ela deve ser tratada como uma cartada final, ou se o tom mais dramático deve ser deixado para uma fase posterior. Pois, depois da votação na Comissão, dia 4, e da pronúncia em plenário, dia 9, ainda tem o julgamento final dos senadores, possivelmente entre 25 e 28 de agosto.