“Tenho convicção de que Lula será nosso candidato à Presidência”.
Eduardo Suplicy, que luta para voltar ao Senado, diz que PT não pensa em outro candidato ao Planalto a não ser Lula.
Nosso convidado de hoje dispensa apresentações, diferentemente do que fazem os locutores ao anunciar os contendores nas lutas de boxe, ainda que estejam em lados opostos do ringue Muhammad Ali e um ilustre sparring. O economista, professor universitário, senador durante 24 anos e vereador por São Paulo (301.446 votos!), Eduardo Suplicy, é um desses lutadores que dispensa apresentações. Membro do ramo ítalo-brasileiro da família Matarazzo, bisneto do conde Francesco Matarazzo, ele é conhecido de boa parte dos brasileiros não pelo sobrenome famoso, mas pela nobreza ética, idealista e quase irreal de sua vida pública. Claro, além do projeto de renda mínima.
Além de ser o meme favorito da política brasileira – o lado bom dela -, seja por viralizar tomar um café da manhã tipicamente brasileiro, por resistir a uma reintegração de posse contra famílias pobres, seja por cantar, onde quer que esteja – o plenário do Senado ou um show de rock – , Bob Dylan, Joan Baez ou Racionais Mc’s. Isso em um país onde político virou palavrão, presidente virou golpista e o Planalto vive a roleta russa para saber se terá na cadeira presidencial um capitão de direita ou um integrante da Opus Dei. Suplicy, que já foi um pugilista nos anos 60, e há tempos combate a corrupção, a mentira e a injustiça, conversou com Os Divergentes enquanto prepara sua festa de aniversário e o lançamento da sua pré-candidatura ao Senado por SP, no dia 23 de junho, na Praça Dom José Gaspar, a partir das 13h. Agradecimentos a Mônia Dallari pela ponte na entrevista.
Os Divergentes: Vivemos um momento conturbado da história nacional. Lula preso. Bolsonaro liderando pesquisas sem Lula. Uma presidenta deposta pelo Congresso de Eduardo Cunha e Renan Calheiros por pedaladas fiscais, e um presidente com legitimidade e popularidade na mesma proporção, fazendo reformas sem respaldo popular. Esse país lhe causa desesperança ou lhe dá forças para lutar? Pelo que lutar?
Eduardo Suplicy: Da mesma forma e disposição com que participei intensamente da luta pelas Diretas Já, desde que fui Deputado Estadual de 1978 a 1982; também por Ética na Política ao tempo de Deputado Federal, 1983-1986; pela norma de que a transparência em tempo real é a melhor maneira de prevenir irregularidades, em 1987-88, quando Vereador e Presidente da Câmara Municipal de SP, em 1989-90; pela construção de um Brasil Justo, Civilizado, Fraterno, Solidário e efetivamente democrático, em meus 24 anos no Senado, 1991-2015; em defesa dos direitos humanos e da cidadania, quando Secretário Municipal no Governo Municipal de Fernando Haddad, e fevereiro de 2015 a abril de 2016, e agora como Vereador outra vez, felizmente com a votação recorde em São Paulo e no Brasil, para um vereador, 301.446 votos, estivesse eu no Senado em 2015 e 2016, teria votado Não ao Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, porque tenho a convicção de que ela não cometeu qualquer crime de responsabilidade , muito menos qualquer ato de enriquecimento ilícito.
Considero grave que Michel Temer, que fez campanha ao lado da Presidenta Dilma, de Lula, de mim, defendendo nosso programa durante a campanha eleitoral que levou Dilma a ter mais de 54 milhões de votos, agora coloque em prática um programa totalmente diverso e que contraria o que Dilma estaria fazendo. Mais do que em qualquer situação anterior, sinto a necessidade de empenharmo-nos com toda a energia pela democratização plena de nosso país, assegurando ao Presidente Lula ser declarado inocente pelos órgãos superiores da Justiça, por ter expresso a sua convicção de que não cometeu qualquer crime de enriquecimento ilícito e, portanto livre, e estar disputando as eleições em 7 de outubro próximo. Assim , terá o povo brasileiro a certeza de um governo que estará cumprindo a realização de nossos anseios maiores de construir uma nação justa, civilizada, sempre com forte participação popular nas decisões de nossos governantes.
Os Divergentes: Mas o sr. acredita que ainda há tempo hábil para que o presidente Lula seja solto e não se torne inelegível – a chamada ficha suja – ou que o PT já precise começar a procurar o tal plano B ou C, e buscar uma alternativa a Lula, mesmo fora do PT? Ciro Gomes é um nome palatável?
Eduardo Suplicy: Tenho a convicção de que Lula será o nosso candidato à Presidência da República. Poderá ter o apoio no segundo turno de Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Manuela d’ávila, do PDT, do PSOL, do PcdoB e da Rede.
Os Divergentes: O sr. será senador pelo PT na próxima legislatura?
Eduardo Suplicy: Sim, por consenso do Congresso Estadual do PT. Assim poderei continuar a minha longa jornada em defesa dos instrumentos de política econômica que mais contribuirão para vivermos numa sociedade em que efetivamente erradiquemos a pobreza absoluta. Também é necessário que lutemos por maior igualdade, melhor qualidade de educação para todas as crianças, todos os jovens, para os adultos, inclusive para os que não tiveram boas oportunidades quando eram criança.
Precisamos lutar pela universalização da boa qualidade de atendimento à saúde na cidade e no campo, em todas as regiões de cada metrópole, além de estimular as formas cooperativas de produção e efetivamente implantar a Renda Básica de Cidadania, que é o direito de toda e qualquer pessoa, não importa a sua origem, raça, sexo, idade, condição civil ou socioeconômica, de participar da riqueza comum de nossa nação, na medida do possível, com o progresso do país, suficiente para atender as necessidades básicas de cada uma. A ninguém será negado. Isto já é lei, aprovada por todos os partidos no Congresso Nacional, sancionada pelo Presidente Lula em 8 de janeiro de 2004. Como esta Lei 10.835/2004 diz que a RBC será instituída por etapas, a critério do Poder Executivo, priorizando-se primeiro os mais necessitados, como, por exemplo o fazem o Bolsa Família e o Benefício Básico de Prestação Continuada, até que se torne universal e incondicional. Os que temos mais colaboraremos para que nós próprios e todos os demais venham a ser pagos. Desta forma elevaremos o grau de dignidade e liberdade para todas as pessoas na sociedade.