Imagine um sujeito entre a cruz e a caldeirinha. Imagine Ciro Gomes. Não é que Ciro, candidato do PDT à Presidência, seja dúbio ou tíbio. Mas com o ex-presidente Lula preso e sem poder, ainda, abandonar o barco e a militância – a estratégia está clara, não é mero acaso -, os tucanos fraquejando com Geraldo Alckmin e a candidatura Meirelles sendo apenas a piada da semana, é mais fácil se queimar, e perder votos, com as palavras erradas do que ganhar aliados. A única certeza que Ciro tem é que Bolsonaro é o adversário a ser batido. E foi pensando nisso que Ciro desviou de mais de balas do que Neo em Matrix durante sabatina nesta segunda, 21. Quem o ouviu na encruzilhada jornalística patrocinada pelo trio Folha, UOL e SBT pode ter saído em dúvida se Ciro é o novo Lula ou o neo FHC. Senão, vejamos.
Se eleito presidente do Brasil, Ciro Gomes promete revogar pelo menos duas medidas de um “governo golpista” – teto de gastos e reforma trabalhista – e “deixar a porta aberta para dialogar com o PSDB”. Peraí. Onde essas coisas se contrapõem? Não foi o PSDB que, até os estertores do governo Temer, com ministros dentro e fora do Planalto, sustentaram esse mandato tampão? Não foi liberdade poética, ele disse. A aliança com o tucanato pode até ser “completamente disparatosa” do ponto de vista eleitoral, reconhece ele, “para ficar numa palavra moderada”, mas é preciso pensar “no dia seguinte às eleições” — e “ter a porta aberta para dialogar” com o PSDB, disse.
Alcançando 9% no último Datafolha em todos os cenários em que Lula (PT) não disputa a sucessão de Michel Temer (MDB), Ciro disse avaliar “o que está em jogo, para quem tem responsabilidade crescente como aquela que estou sentindo crescer sobre meus ombros”: a governabilidade. Daí a necessidade de pensar no que aconteceria caso ganhasse o pleito, e isso inclui manter pontes com o PSDB, embora o partido, ao seu ver, tenha se aliado ao MDB para dar um “golpe de Estado” “antipobre e antipovo”. Reparem na ginástica de Ciro. Tanto que o ex-ministro do governo Lula criticou o presidencialismo de coalizão, que chamou de “uma mentira sofisticada que FHC criou e a qual o PT se submeteu”.
No fundo, Ciro só quer estar no segundo turno pela primeira vez na história, como nem o ícone pedetista Leonel Brizola esteve em 1989 – na eleição vencida por Fernando Collor contra Lula. Está na torcida para um segundo turno entre ele e Jair Bolsonaro, do tal PSL. “A rigor, gostaria muito de enfrentá-lo, me parece o candidato menos difícil de ser derrotado”, afirmou o ex-ministro, que guarda para o capitão-deputado seus piores adjetivos. É fascista, “promessa certa de uma crise” e tem “soluções muito toscas” para o país.