O MBL caminha para a poeira da história, sem direito a nota de rodapé, depois de fazer o serviço sujo. E, às vésperas das eleições de 2018, não tem perspectivas reais de aumentar a bancada multipartidária em que se dividem seus militantes. Batizado Movimento Brasil Livre, defensor do “liberalismo econômico e do republicanismo”, e que viveu seu apogeu entre o final de 2014 e 2016, servindo de massa de manobra para o PSDB e para a Fiesp, promovendo protestos a favor do impeachment de Dilma Rousseff- como o tosco Vem Pra Rua -, tem aparecido na mídia de forma patética. Nos últimos dias, levou uma lambada da ministra Rosa Weber, que comanda o TSE, e negou um pedido midiático do movimento para barrar a candidatura de Lula. Queriam que Lula, pulando todas as etapas legais, fosse declarado logo inelegível. A ministra, que é vice-presidente do TSE e presidirá a Corte durante as eleições, afirmou que o pedido, a rigor, era para a exclusão de um candidato, “fora do intervalo temporal especificamente designado pela lei para tanto”.
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A outra tentativa desesperada do MBL de surfar na mídia veio na onda de mais um destempero verbal de Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, que chamou o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), o rosto mais conhecido do MBL, de “capitãozinho do mato”. Holiday, que é contra, por exemplo, a política de cotas nas universidades, encheu-se de brios e mostrou-se ofendido. Viu racismo na frase. Logo ele. Ciro não se deu por satisfeito. Em uma rádio, no dia 18, chamou a patota do MBL de “delinquentes juvenis”. O Ministério Público de São Paulo abriu inquérito, que, evidentemente, não vai dar em nada. E o MBL segue tentando alguma mídia.
A origem do MBL é cada vez mais escancarada. Em entrevista à Época, em junho, o sociólogo espanhol Manuel Castells, 76 anos, um dos maiores estudiosos das transformações sociais causadas pela internet e pela vida na rede, chamou o MBL de “força não democrática”, financiada no Brasil pelos irmãos Koch (Charles e David Koch, bilionários americanos que financiam movimentos conservadores de direita). Isso já havia sido revelado pelo inglês The Guardian, que contou que alguns coordenadores do MBL receberam treinamento da Students for Liberty, uma rede que advoga o livre mercado e faz parte da Atlas Network, organização americana sem fins lucrativos que difunde esses ideais.
O encolhimento do MBL, que virou uma espécie de nave-mãe das “fake news” nas redes sociais, se deu mal também na escolha do queridinho par a Presidência. Seus próceres, por assim dizer, entre eles Kim Kataguiri, coordenador nacional, e Fernando Holiday, acertaram apoiar Flávio Rocha, o pobre homem rico da Riachuelo, e ficou pendurado na brocha quando o empresário anunciou que não será mais candidato. Até o funkeiro Latino já havia gravado o jingle da campanha. O MBL vai ter que buscar outra opção, embora muito pouca gente esteja buscando hoje associação ao grupelho de Holiday e Kataguiri – este último desmoralizado por Marcia Tiburi, que abandonou um programa de rádio para não perder tempo debatendo com um androide ideológico.
Em junho, o partido se meteu em outra lambança. Cauê Del Valle, coordenador nacional do MBL e supervisor técnico da Prefeitura Regional de Pinheiros, que ganhou “notoriedade” ao participar de ato para apagar uma pichação de manifestantes na casa do então prefeito João Doria (PSDB), foi demitido. Crise. Pressionado, o prefeito Bruno Covas (PSDB) topou recontratar o rapaz de 24 anos. Holiday e Covas vinham se desentendendo nas redes sociais. O vereador chamou o prefeito de “covarde” após veto a seu projeto de lei que propõe a catalogação de imóveis da cidade. Além disso, o movimento fez pressão para ter mais influência na gestão municipal, isso para que se tenha uma ideia do que virou o Palácio do Anhangabaú.
No início do ano, Kim Kataguiri, baseado em nada, diz que o grupo pretendia emplacar uma bancada de até 15 deputados federais em 20 candidaturas lançadas por diferentes partidos. O próprio Kataguiri diz que vai se lançar a uma cadeira na Câmara, mas ainda não decidiu por qual partido concorrerá. Doce ilusão. Nas eleições municipais de 2016, quando o grupo de direta tinha forte mídia, o MBL elegeu oito dos 45 candidatos que lançou – um prefeito e sete vereadores. O MBL caminha a passos largos para virar não um capitãozinho do mato, mas o próprio mato.