Por favor, me chamem de doido. Varrido. Me internem. Me prendam a uma camisa de força (amordaçar, não, hem!) Só não admitam que posso estar certo – não quero estar certo, que fique claro. Se todos os pensamentos e comentários referentes a este texto me ungirem como paranoico nível Ubaldo, o personagem icônico de Henfil, ficarei mais feliz do que pinto no lixo. Mas um diabinho na minha mente, que não para de pensar, e que me lembra que nossa elite nunca deixa de surpreender, insiste na tal ideia: o próximo passo pode ser adiar as eleições de outubro. Acha que seria demais?
Faça uma reflexão reversa. Quem imaginaria, quando Dilma Rousseff foi reeleita, por mais esperneio que fizesse o perdedor Aécio Neves, que ela seria impichada. Como Collor foi. Impichada, gente. Por pedaladas fiscais. Por um Congresso chefiado por Eduardo Cunha, hoje detento e potencial delator. E quem imaginaria que viria Temer que, posando de “vice leal”, foi um dos principais a tramar a queda de Dilma. E que ele rasgaria o programa de governo que o elegeu – como vice – e passaria a obedecer ao eleitor-mercado, fazendo reformas sem qualquer contato com o desejo do eleitorado.
E que Lula estaria na antessala de uma condenação que o tiraria – tirará? – de uma eleição certa, mesmo sendo favorito e nada tendo sido provado contra ele. Lula dependendo de Gilmar Mendes pra não ser preso, que tal? E que gente como Bolsonaro, Doria, Huck – provisoriamente fora – , povoariam nossa vida política, como potenciais candidatos ao Planalto.
E quem diria que, num pós-carnaval qualquer, com um presidente desmoralizado até na avenida por uma escola sem tradição, a Tuiuti, e com a reforma da Previdência virando caquinha, viria uma intervenção militar? Sim, claro, só na segurança pública do Rio, sim, claro, com a anuência do fortíssimo Pezão, sim, claro, com a ausência da alma penada do Crivella, sim, claro, para exterminar o tráfico e devolver a dignidade ao povo sofrido do Rio – arrepiei- , como escreveram, a seis mãos Etchegoyen (o malfadado chefe do GSI), Moreira (a cabeça civil na torpe ideia da intervenção) e Jungmann (outro ex-comunista arrependido), que de povo entendem tanto quanto uma nuvem de gás lacrimogêneo.
Aí meu diabinho sopra: o que falta? A dez meses e meio do fim de seu mandato, Michel Temer apostou em um só lance todas as fichas que restavam em seu cacife. Ele que diz sonhar com a reeleição. Ele que já acalentou desengavetar o parlamentarismo. Não é preciso ser gênio pra perceber que a necessidade de “pôr termo o grave comprometimento da ordem pública” é cortina de fumaça para esconder decisão política tão grave. Sem reforma da Previdência, sem qualquer perspectiva de discutir a reforma tributária, Temer estará caminhando para o cadafalso e seria tragado pelas eleições. Daí surgiu a intervenção no Rio. Não de um diagnostico de violência, isso não importa, mas de uma oportunidade de ouro. Uma jogada de enorme risco político e administrativo, de quem nada tem a perder.
E se, ao invés de persistir na reeleição improvável ou no parlamentarismo sem consenso, fosse mais fácil ter na gaveta uma proposta de emenda à Constituição que estabelecesse a simultaneidade nas eleições para todos os cargos majoritários. Numa só eleição seriam escolhidos, o presidente, os governadores e prefeitos – e seus legislativos. Isso, na prática, “adiaria” as eleições de 2018 para…2020. Quem está eleito, fica. Comece a ouvir com mais cuidado declarações de que o governo teme a infiltração do “crime organizado” nas eleições de 2018. E de que as eleições de 2018 representam “risco à agenda” de reformas necessárias para o país voltar a crescer.
Segue aguardando parecer de comissão especial a PEC 77-A, de 2003, do deputado federal Marcelo Castro, presidente do MDB no Piauí, e ministro da Saúde no governo Dilma, que “põe fim à reeleição majoritária, determina a simultaneidade das eleições e a duração de cinco anos dos mandatos para os cargos eletivos, nos níveis federal, estadual e municipal, nos Poderes Executivo e Legislativo”. A PEC 77 foi sacada quando da discussão da hilária reforma política. Agora, pode ser uma “boa ideia” – e não só para Temer. Mas eu sou paranoico, né?