“Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada”.
General de Exército da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ao Estado de S.Paulo
Na véspera do julgamento do habeas corpus preventivo com o qual o ex-presidente Lula quer evitar sua prisão após condenação pela segunda instância da Justiça Federal, as pressões vieram de todos os lados – e são cada vez menos sutis. O procurador Deltan Dallagnol anunciou um jejum, a procuradora-geral, Raquel Dodge (“Justiça que tarda é uma Justiça que falha”), seu antecessor, Rodrigo Janot (“Temos que abstrair de pessoas, olhar as teses e os efeitos disso no sistema penal”) e o ministro Gilmar Mendes (“Acredito numa pacificação [após o julgamento de Lula]”) – mandaram recados nada subliminares. Sem falar nos dois abaixo-assinados entregues à Corte, um de integrantes do Judiciário e do Ministério Público e outro de advogados criminalistas, pedindo, nesta ordem, que o Supremo negue e conceda o habeas corpus a Lula. Um dia antes, a presidente do STF, Cármen Lúcia, pedira “serenidade para romper o quadro de violência”.
Não vai ser fácil quando tem gente se pintando para a guerra. A fala de um oficial do Exército, mesmo vestindo pijamas, deixou o campo do convencimento para transitar entre a intimidação e a chantagem. Escalado pela linha dura para falar, o general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa afirmou ao Estadão que se o STF deixar Lula fora da prisão, estará agindo como “indutor” da violência entre os brasileiros, “propagando a luta fratricida, em vez de amenizá-la”. Lessa foi além. Disse que, se o tribunal permitir que Lula se candidate e se eleja presidente, não restará outra alternativa do que a intervenção militar. “Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever da Força Armada restaurar a ordem. Mas não creio que chegaremos lá.” Lessa foi comandante militar do Leste e da Amazônia e presidiu o Clube Militar. Outros militares da reserva também têm se manifestado sobre o tema, caso do general Paulo Chagas, que é pré-candidato ao governo do Distrito Federal. O Exército informou que a opinião de Lessa é pessoal e não pareceu se incomodar que tenha falado como se fosse um porta-voz da instituição.
Nem todos acharam o fato corriqueiro. Uma das reações imediatas veio do deputado Jorge Solla (PT-BA), que pediu nada menos que a prisão preventiva do general. “O Supremo deveria julgar somente olhando a Constituição, mas vai julgar com a faca no pescoço. É muito grave. Estamos vivendo uma ameaça pública de golpe militar”, disse. Em nota, o parlamentar fez a cobrança ao presidente Michel Temer, ao ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, e ao procurador-geral da Justiça Militar, Jaime de Cassio Miranda.
O clima, com isso, claro, só piora. A Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal decidiu bloquear o acesso ao Supremo e dividir a Esplanada dos Ministérios entre manifestantes contra e a favor do ex-presidente Lula por causa de atos convocados para acompanhar o julgamento do habeas corpus do petista. Apenas o gramado e as pistas da Esplanada ficarão livre para passeatas. Haverá uma divisão dos grupos por grades vazadas, com um cordão de policiais militares entre elas. O isolamento abrange toda a Praça dos Três Poderes, onde ficam, além do STF, o Palácio do Planalto e o Congresso. O temor de um conflito, porém, segue como forte preocupação.