O prazo acabou, mas não a paciência de Lula

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto Orlando Brito

O prazo de 17h acabou – e se desmoralizou. Lula, tudo indica, será preso, ainda que seja por alguns dias, mas será do seu jeito, e a hora que decidir. A estratégia do ex-presidente, considerada a mais provável neste momento, é ficar na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, o marco zero de sua vida política, e esperar que a PF venha prendê-lo. Será, sem dúvida, um momento de grande tensão. Até porque a cada novo discurso, no palanque montado em frente ao sindicato – e onde, espera-se, Lula discursará a qualquer momento -, os ânimos se acirram. Outra possibilidade é que Lula se apresente apenas na segunda ou na terça-feira, de forma discreta. Negociações estão em curso para que viaje em jato fretado para Curitiba. Um avião da PF está em São Paulo à disposição de Lula caso ele queira se entregar na capital paulista.

“Não há por parte do presidente Lula nenhum descumprimento da sentença do mandado de prisão do juiz Sérgio Moro. Ele tinha a opção dada pelo juiz e não exerceu essa opção. Ele está aqui no Sindicato dos Metalúrgicos, um lugar público. Muitas pessoas sabem onde ele está”, ironizou Gleisi Hoffmann, presidente do PT.

Os advogados que atuam na defesa do ex-presidente Lula vinham sendo os mais resistentes com o plano de ele não se entregar à Polícia Federal até as 17h desta sexta, 6, mas mudaram de ideia e passaram a apoiá-lo, segundo apuraram repórteres experientes enviados para São Bernardo do Campo. “Não haverá resistência, mas ele (Lula) não irá para o matadouro de cabeça baixa, por livre e espontânea vontade”, disse à Folha José Roberto Batochio, que cuida da defesa de Lula junto com Cristiano Zanin Martins.
Um dos temores dos advogados de Lula era de que o juiz federal Sergio Moro decretasse uma segunda prisão caso ele não cumpra as ordens do juiz de se apresentar à Polícia Federal em Curitiba. O temor foi ultrapassado com o argumento de que tanto faz se Lula tiver uma ou três prisões decretadas pela Justiça. O colunista do Globo, Merval Pereira, como de praxe, emprestou sua pena para vazar ameaças. Divulgou – e chegou a ser manchete do portal do Globo -, que se Lula não se entregasse no prazo determinado pela justiça, Sergio Moro poderia decretar sua prisão preventiva. Balela.

Lula mantém seu exílio temporário no sindicato. Nas raras aparições na janela no segundo andar do sindicato dos metalúrgicos do ABC, a maior parte das vezes com Luis Marinho, pré-candidato ao governo de São Paulo, acena aos manifestantes em vigília, que respondem histéricos.

O mito, ainda solto, está sendo reconstruído. Preso, vira lenda. Por esse final, ninguém esperava. Do outro lado, a pressa do juiz Sergio Moro para prender Lula alimentou o discurso de perseguição ao ex-presidente. Como já é conhecido, o juiz assinou a ordem de prisão na quinta, 5, à tarde, quando a defesa ainda poderia apresentar um último recurso ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Os advogados de Lula tinham até a próxima terça, dia 10, para formular os novos embargos de declaração, conhecidos como “embargos dos embargos”.

Lula pode não ser candidato. E deve ser preso. Mas nunca foi tão Lula.

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