O “mito” e os segundinhos do PR

Jair Bolsonaro

“Eu já falei sim, já pedi ele em casamento. Ele que está mudo”.
Jair Bolsonaro, sobre seu futuro candidato a vice, Magno Malta, no Globo

O líder de direita, capitão-deputado Jair Messias Bolsonaro, tratado pelos fãs como “Bolsomito”, vai ter cada vez mais dificuldades para se vender como alguém “acima dos partidos” e “fora dos acordões” e do toma-la-dá-cá que arruinaram a política nacional. O homem que se diz preparado para governar o país, mesmo sem ter administrado um poleiro de pombos, tem procurado mostrar que vai se cercar de grandes nomes para compensar suas, digamos, limitações em quase todas as áreas que não sejam o furor nacionalista do tempo da ditadura militar, a defesa do armamento da população, a relativização dos direitos humanos e a hostilidade fóbica contra mulheres, gays e minorias. Nem todos os candidatos definiram seus vices- uma função que ganhou importância na história recente do país -, mas Bolsonaro parece ter batido o martelo. E deu no que deu.

Magno Malta/ Reprodução Twitter (em vídeo convidando para evento gospel contra o aborto e a ideologia de gênero)

O PR já emitiu o sinal verde para que o senador Magno Malta – pastor evangélico e integrante de uma banda gospel – seja a alma gêmea da chapa liderada por Bolsonaro. “Da minha parte está resolvido”, afirmou o candidato. “Eu já pedi em casamento.” A aliança faz com que o tempo de TV do ex-capitão salte de oito para 45 segundos. Por sua vez, o PR enxerga a união como estratégia de aumento da bancada no Congresso. Além de ser uma das siglas investigadas na Lava Jato, com inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal envolvendo o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) e os deputados Milton Monti (PR-SP) e João Carlos Bacelar (PR-BA), o PR é liderado por Valdemar Costa Neto, condenado pelo envolvimento no escândalo do mensalão.

Chegou-se a cogitar a advogada paulista Janaina Paschoal, uma das autoras mais folclóricas do pedido de impeachment que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, mas até entre os bolsonaristas há rejeição. Outro contato foi com o general do Exército Augusto Heleno (PRP-DF), que comandou as tropas brasileiras no Haiti. A chapa verde-oliva morreu antes da guerra começar. Ficou Malta, que chegou a recusar o primeiro convite, há algumas semanas, por “motivos familiares”. Sua esposa, a cantora gospel Lauriete Rodrigues Malta, não queria disputar o Senado no lugar do marido nas eleições deste ano. Ela já havia até lançado pré-candidatura para deputada federal, cargo que já ocupou de 2011 a 2014. Magno pesou as coisas e, depois de uma conferência familiar, topou a nova empreitada.

Vez por outra, aparece na sombra de Bolsonaro um “especialista” que se presta a esse papel de tentar dar-lhe – pelo menos junto à opinião pública – algum verniz, alguma camada de profundidade. Gente como Paulo Guedes, que tem entre seus negócios o site de relacionamento Namoro on line, com serviços voltados para relacionamentos evangélicos, terceira idade e outros segmentos. Outro nome lembrado como “consultor” de Bolsonaro é Marcos Cintra, defensor do imposto único. Cintra, curiosamente, é integrante do governo Temer. Ele preside a Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep), ligada ao ministério de Gilberto Kassab.

O economista, igualmente evangélico, Adolfo Sachsida, pesquisador do Ipea, que já disse que o Bolsa Família pode ser entendido como um “imposto de renda negativo”, e o advogado e professor da Mackenzie, Bernardo Santoro, que foi presidente do partido Libertários e do Instituto Liberal, são outros “apoiadores”. No Congresso, Bolsonaro é visto com o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), supostamente “coordenador informal” da formatação do programa de governo do presidenciável, e o deputado Alberto Fraga, que é a linha direta com a chamada “bancada da bala” – além, claro, do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável. Realmente, um timaço. E nem sobre ele há consenso. Em setembro de 2017, outro dos filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos, tuitou: “Ou Bolsonaro se descola de Bernardo Santoro e companhia ou sua essência poderá se acabar”. Seja lá o que isso signifique.

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