Muito além das carinhas de resina de Kim Kataguiri e Fernando Holiday, faces mais conhecidas do MBL, convém fazer um passeio antropológico pela moral e pelos costumes desta frente juvenil de direita e estudar o processo de associação de novos membros. Nunca tinha entrado no site do MBL e, admito, não esperava que, de forma tão escancarada, eles abrissem a tampa do bueiro.
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A moçada está desesperada atrás de adesões pagas, até porque não se sabe até quando os caridosos irmãos Koch – Charles e David Koch, bilionários americanos que financiam movimentos conservadores de direita -, vão continuar pingando seus dólares. Os Koch são gente muito solidária com determinadas causas, como financiar comunicadores ligados ao Tea Party, cientistas que insistem que a mudança climática é um fenômeno natural e até a National Rifle Association (NRA), que dispensa apresentações. Os Koch, porém, querem ginetes. E o MBL é um pangaré em crise.
O movimento, que nasceu no final de 2014 e viveu seu apogeu, por assim dizer, em 2016, servindo de massa de manobra para o PSDB e para a Fiesp darem uma cara popular para protestos a favor do impeachment de Dilma Rousseff, tinha planos ambiciosos para sua segunda eleição. Afinal, Dilma caiu, Temer assumiu e essa célula suprapartidária vinha vendendo a ideia de que pretendia emplacar agora uma bancada de até 15 deputados. Ruralistas, evangélicos e bancada da bala, relaxem, os coxinhas não estão com nada. A vida não anda fácil pós-impeachment. Patos perderam a utilidade. E os sapos não parecem estar ajudando muito. Sugere-se a adoção de uma ameba como próximo símbolo de campanha.
Voltando ao MBL, até a candidatura de Kataguiri a uma cadeira na Câmara anda sofrendo uma rajada contrária. Será a primeira eleição federal da qual o MBL participa. Kataguiri tentou com o Livres, então um braço do PSL, ensaiou uma aliança com a ala jovem tucana, os chamados “cabeças-pretas”, e terminou nos braços do DEM. Mas andou dizendo que a candidatura presidencial de Rodrigo Maia “é inviável”, e isso pegou muito mal. O sonho do MBL era colar na candidatura de Flávio Rocha, o Koch da Riachuelo, mas ele desistiu.
Fui atrás do plano de adesão do MBL. Assinaturas como essas são formas democráticas de arrecadar para um movimento, partido ou veículo alternativo de comunicação. O que chama a atenção nos combos oferecidos pelo MBL são os valores e os nomes, que entregam a barafunda do grupo. São quatro planos para ser um sócio da patota. Um deles, chamado de Irmãos Koch, justa homenagem aos mecenas ianques, custa 100 paus por mês e dá direito, entre outras coisas, a participar do Congresso do MBL.
Ah, e tem direito a 4 “Pimbas” por mês, que é uma espécie de dízimo do MBL. Você leu direito, “pimbas” – que em algumas regiões do país significa “bilau”. Explicando: o pujante MBL, conhecido fabricante de “fake news”, apresenta um “jornal” em seu canal no Youtube todos os dias da semana. No “MBL News”, os integrantes leem os acontecimentos diários enquanto emitem julgamentos preconceituosos e fazem piadas fascistas. O “pimba” é um comentário que deve ser lido obrigatoriamente pelos “apresentadores” se você tiver crédito em…”pimbas”. Ou seja, o MBL comercializa em seu pacote de adesões comentários em seu “telejornal”.
Mas há outros planos, que mostram todo o “branding” do movimento. O plano vip leva o nome singelo de “Exterminador (!) de pelegos”- sim, exterminador- e custa 500 reais por mês, o que daria 6 mil reais por ano. De dar inveja à Igreja Universal. Além de participar do Congresso do MBL, ter “convites para eventos exclusivos”, você teria PIMBAS ILIMITADOS.
É quase como assaltar a Casa da Moeda. O “Mão Invisível” – será que quem coloca esses nomes é o mesmo cara que bola os nomes de operações da Lava Jato, na época em que tinha Lava Jato? , a 250 reais por mês, é igual ao “Exterminador de Pelegos”, sem o kit anual de produtos, o que inclui camisetas com Lula preso, meias e toalhas de academia – afinal, o membro do MBL cuida de sua forma. O plano mais merreca é o “Agentes da Cia” – gente, que tara- , 30 reais por mês. Na lojinha do MBL há um apelo sintomático. “Não deixe o MBL acabar, compre nossos produtos”. Recentemente, passaram a aceitar doações em BTC, ou bitcoins.
A “ampla capilaridade digital” do MBL, seu trunfo de outrora, não é mais a mesma, e sua trincheira política, o governo João Doria, foi fortemente abalado com a chegada de Bruno Covas, que vive às turras com o MBL, que tem como preposto local um certo Cláudio Carvalho. Covas chegou a mandar pra rua um coordenador do MBL, Cauê Del Valle, 24 aninhos, salário de vencimentos de R$ 3.385, mas a exoneração foi cancelada por pressão de Doria.
Veja bem o varejo político desse movimento renovador. A pergunta que fica – embora eu já saiba a resposta – é: o MBL presta contas de suas fontes de recurso? Inclusive das doações anônimas dos Irmãos Koch, defensores do “Estado mínimo”, com a eliminação de quaisquer políticas sociais e restrições à exploração capitalista? É uma opção ideológica, mas quem está vigiando os vigilantes?
Pra não dizer que não falei de Bolsonaro – O Globo publicou neste domingo, 22, uma entrevista com o candidato-deputado-capitão Jair Bolsonaro. Sobre suas fotos com crianças fazendo sinal de armas com a mão – sim, não foi só um episódio -,o candidato do PSL disse simplesmente: “Chega de frescura, quando eu era criança brincava de arma o tempo todo. Nas favelas, tem gente de fuzil por todo o lado”.
É uma resposta a la Bolsonaro. Vejo bolsominions tendo arrepios. O momento mais didático da entrevista foi quando o presidenciável também admitiu desconhecer completamente assuntos econômicos e diz que quem responde por ele nessa área é o consultor Paulo Guedes — o seu “Posto Ipiranga”. Divirtam-se.