Um bizu pra vocês: depois de mais um cagalhão, o mulambo foi botado pra torar. Traduzindo, da gíria militar: o general Antonio Hamilton Mourão, defensor contumaz da intervenção militar no Brasil, foi afastado do cargo que ocupava no Exército. O militar foi movimentado, neste sábado, 09, para a Secretaria-Geral do Exército, o que equivale a um gulag versão caserna. Segundo um informe interno do Exército, destinado ao público verde-oliva, o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, informará o ministro da Defesa e o presidente da República da decisão. Sim, a informação não está errada, embora o óbvio fosse o contrário, que Michel Temer e Raul Jungmann tivessem ordenado Villas Bôas a defenestrar sumariamente Mourão. Apesar da punição, Mourão vai continuar recebendo remuneração, por ser “oficial de carreira”. E, certamente, seguirá falando besteiras pra quem tiver paciência pra ouvir.
Em palestra promovida pelo grupo de extrema direita Terrorismo Nunca Mais, um certo Ternuma – não confunda com Ternura -, no Clube do Exército, em Brasília, na quinta, 07, o general Mourão afirmou que Temer preside o país aos trancos e barrancos e mediante um balcão de negócios. O general voltou a falar sobre a possibilidade de uma intervenção militar no país, da forma como fazem os golpistas. Lembrando o necessário “elemento moderador e pacificador” das forças Armadas. “Se o caos for instalado… O que chamamos de caos? Não mais o ordenamento correto. E se as forças institucionais entenderem que deve ser feito um elemento moderado e pacificador, agindo dentro da legalidade…”. As reticências dizem tudo, neste caso.
As duras críticas ao seu comandante em chefe, ou seja, ao presidente da República, foram consideradas a gota d’água, mesmo num ambiente de complacência com militares golpistas e no momento em que ganha corpo a pré-candidatura presidencial do deputado-capitão Jair Bolsonaro, outro saudoso da época das fardas, estrelas e torturas.
“Agora, temos os cenários colocados pela imprensa. Não há dúvidas que vivemos a ‘Sarneyzação’. Nosso atual presidente vai aos trancos e barrancos, buscando se equilibrar, e, mediante um balcão de negócios, chegar ao final de seu mandato”, disse o general Mourão, na sua palestra intitulada “Uma visão daquilo que nos cerca”. Mourão, o falastrão, também criticou os governos Lula e Dilma Rousseff, do PT. “Um dos candidatos que está aí (Lula), tenho convicção e fé, vai assistir a vida passar em outro lugar”. Numa referência às descobertas da Operação Lava Jato, o oficial disse ainda que ter “as grandes empreiteiras praticamente se assenhorando do Estado” foi um exemplo de quando corporações desafiam os Estados nacionais.
Não havia nada de oculto ou subterrâneo na palestra golpista. Ela foi transmitida ao vivo pelo Facebook por um dos movimentos que organizou a palestra, um certo Bloco Movimento Brasil. Na plateia, militares da reserva e grupos de civis que defendem atuação das Forças Armadas na política. Ou seja, o eleitorado de Jair Bolsonaro.
Como mostrou o divergente Andrei Meirelles, no post “Exército recusa punir general Mourão por ameaça à democracia”, em setembro, Mourão declarara, já naquela época, que, “diante da crise enfrentada pelo país, pode haver uma intervenção militar caso a situação não seja resolvida pelas próprias instituições”. A afirmação foi feita em palestra realizada na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília, após o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar pela segunda vez o presidente Michel Temer, por participação em organização criminosa e obstrução de Justiça.
Ou seja, o general precisou defender o golpe duas vezes para ganhar um pito na forma de uma remoção. Não deve parar por aí. Como já mostrou a divergente Helena Chagas, Mourão tem sido incentivado a disputar as eleições do ano que vem. Ele disse que seu domicílio eleitoral é no Distrito Federal, mas que pretende morar no Rio após deixar a ativa. Ele anunciou que irá para a reserva em 31 de março de 2018 – sim, 31 de março. O saudosismo de parte da caserna, e de setores da sociedade civil, com os tempos da ditadura, seria hilário se não fosse patético.