Em um Carnaval onde fantasia de índio virou tabu e o prefeito da IURD, Marcelo Crivella, se enche de asco para entregar a chave da cidade ao Rei Moro, digo Momo, o destaque em bizarrices esteve com o idiota hors concours Jair Bolsonaro, candidato-flex do mercado, que anda rodando o país, e parte do mundo, patrocinado por bancos e investidores, para cravar sua plataforma presidencial. Bolsonaro é o tipo que, para vender suas ideias toscas, não dá tiro no pé, prefere amputar o próprio pé, no melhor estilo Jogos Mortais. Mas o mundo que defende é o de Mad Max, dividido entre excêntricos e insanos. Os entendedores, entenderão.
A Rocinha, na Zona Sul do Rio, tem mais de 70 mil habitantes. É a maior favela do país. Lá residem, naturalmente, dezenas de milhares de trabalhadores, crianças, mulheres, idosos. E um pequeno bando de traficantes, que cooptam meninos para seu negócio, geralmente como olheiros ou fogueteiros. Se sobreviverem além da adolescência, viram soldados, ganhando a primeira arma. É uma das áreas dominadas pelo tráfico no Rio, que vive há décadas uma disputa entre um cartel de facções belicosas. E que incorporou, na década de 70, a rivalidade das milícias de policiais que, como Bolsonaro, desonram a farda que usaram um dia.
O projeto das Unidades Pacificadoras, as UPPs de Sérgio Cabral e José Mariano Beltrame, fizeram todos – a mídia como locomotiva panfletária – acreditar no oásis de dias melhores. Mas morreram de sede na farra dos guardanapos, onde os champanhes eram para poucos. Os moradores, que compraram esperança, já reaprenderam a rotina de medo. Hoje, entre a rua 1 e a quadra conhecida como Roupa Suja, próximo ao local onde o pedreiro Amarildo de Souza desapareceu em 2013, uma localidade chamada pelos moradores como Linha da Morte, traz nos becos e nas casas as marcas de tiros de fuzil que delimitam os dois mundos.
A Acadêmicos da Rocinha, 4ª escolar a passar pela Sapucaí no segundo dia de desfiles da Série A, na madrugada de domingo, 11, desfilou desfalcada. Muitos moradores, temerosos da atual onda de violência, preferiram ficar em casa, ainda que o enredo fosse a prosaica história da xilogravura. A Rocinha está, em tese, ocupada há cinco meses pelo Choque, a polícia do mal da PM. Antes disso, a Rocinha já havia ficado sob intervenção das Forças Armadas, com atuação direta do Exército. Nada disso fez cosquinha de solução. Os confrontos deixaram nos últimos meses, em números oficiais, 41 mortos, incluindo um PM e uma turista espanhola. A solução é complexa, mas há quem acredite em bombas de napalm.
Bolsomito, o que nada entende de economia, mas sabe tudo sobre tiro, porrada e bomba, deu a sua receita para resolver a guerra da Rocinha, num grande evento promovido na semana passada pelo BTG Pactual – ah, André Esteves… Uma “solução simples — e idiota”, como descreveu Lauro Jardim, em seu blog no Globo. A uma plateia de mil executivos do mercado financeiro, Bolsonaro disse que mandaria um helicóptero derramar milhares de folhetos sobre a favela, avisando que daria um prazo de seis horas para os bandidos se entregarem. Terminado este tempo, se a bandidagem continuasse escondida, metralharia a Rocinha. Foi aplaudido em sua ode ao genocídio. É hora de encontrar a solução “definitiva” para Bolsonaro.