Lula in the sky with diamonds

Lula, Foto Orlando Brito

A convenção do PT, que só acontece na prática no meio do ano, foi antecipada pelo rito judicial sumaríssimo do “caso do tríplex do Guarujá” e convertida na massa de militantes que, nesta já histórica quarta, 24, irradirará de Porto Alegre, o nome de Lula como o irrefreável candidato do partido em outubro próximo. Se dentro do fórum envidraçado chamado de TRF4 três juízes encenarão sua Páscoa eleitoral, com a paixão e morte de Lula – já desenhada nas redes sociais por alguns deles -, do lado de fora a infâmia jurídica será removida, como pedra que rola da sepultura, para a ressurreição que só as ruas podem garantir.

A candidatura de Lula será subtraída, em tenebrosas sentenças, do lado de dentro da Corte gaúcha. E restaurada do lado de fora, no veredito do asfalto. O eco de Porto Alegre, e também de outras capitais, será de tal forma ensurdecedor – ao contrário dos piados roucos que não conseguiram impedir o impeachment de Dilma Rousseff -, que levará Lula até as urnas. E, como indicam todos os cenários eleitorais, já há um bom tempo, com boas chances de vitória.

Se a essa altura já se sabe que Lula será condenado pela trinca do chimarrão, sabe-se também que o “julgamento do ano” não determinará, por si só, o que acontecerá com o ex-presidente nas esferas eleitoral e criminal. Mais do que embargos, infringentes ou não, e recursos ao STJ e STF, tudo sob o olhar do TSE, o que sustentará Lula no palanque serão, como sempre foram, as ruas. E se nada conseguiu reuni-las de forma tão intimidadora, nos últimos tempos, agora Moro, Laus, Paulsen e Gebran Neto serviram, involuntariamente, de amálgama para um PT amargurado, uma esquerda paralisada e um eleitorado, em boa parte, sem rumo. Excetuados aqueles que já aderiram ao outro lado da força.

Depois que helicópteros, aviões, navios e snipers se dissiparem, e a paz voltar aos céus de Porto Alegre e às águas do Guaíba, num risível esquema de segurança aéreo e naval, uma sucessão de fatos, decisões e conchavos hoje difíceis de divisar, alguns tomados entre quatro paredes, outros sob a luz do sol – e dos holofotes -, ajudarão a sustentar a candidatura que hoje se tenta impedir.

Numa eleição, então, oficialmente judicializada, a candidatura Lula terá que lidar com desafios políticos muito maiores, como a fragmentação da esquerda, a continuidade das costuras políticas com o centro, em sintonia com as alianças estaduais, e o forte apelo do antipetismo, felizmente, para ele, também pulverizado. Pelo menos até o segundo turno. Porque, se o PT não tinha de fato plano B, o outro lado tem. Não é Bolsonaro, nem Alckmin. É um jovem apresentador global.

No momento, apreciem o espetáculo da democracia, que nunca coube em gabinetes assépticos. A magistrados que o visitaram, o presidente do TRF4, Carlos Eduardo Thompson Flores, outro que fala pelos cotovelos de renda, avaliou que as manifestações de apoio a Lula perderam força. Acostumado ao ar condicionado de seu gabinete, e a satisfações apenas aos seus pares, Thompson Flores deve ter perdido há tempos o olfato das ruas.

O TRF4 afiou a guilhotina, mas virou plataforma da candidatura de Lula.

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