O ex-presidente Lula ficará candidato, não importa o que decida, em janeiro, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). E mesmo que chegue um ponto em que não haja mais recursos a instâncias superiores, sua candidatura, uma vez registrada, terá se tornado irreversível. É o que afirma a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT – aliás, primeira mulher a presidir o partido da estrela vermelha.
Gleisi diz que, à exceção do deputado-capitão Jair Bolsonaro, que canalizou a verve de parte da sociedade – a parte direitista e com memória histórica curta -, os demais candidatos não encontram eco no eleitorado. Ela defende as alianças regionais para eleger Lula, com um PMDB que não coadune com o atual governo (do PMDB), e diz que Temer, por mais esforço que faça, passará para a história como um golpista que rasgou a Constituição.
Os Divergentes: Qual a estratégia do PT tendo Lula liderando com sobras as pesquisas de intenção de voto para presidente, mas atormentado por uma questão jurídica que pode inviabilizar essa candidatura?
Gleisi Hoffmann: A candidatura do Lula não é mais uma candidatura do PT, mas de uma parcela expressiva do povo brasileiro. E cabe ao PT defendê-la, viabiliza-la e assegurar que ele seja candidato. Primeiro, porque entendemos que o presidente Lula é inocente. A sentença dada pelo juiz Sérgio Moro é questionável, do ponto de vista jurídico. Não tem provas para condena-lo. Alias, o processo sequer trata de um crime. Qual o crime do presidente que caracterize corrupção passiva? Não tem crime, isso não está configurado. Lula tem que ser candidato e será candidato.
OD: E se o TRF4, tão célere na análise do processo, mantiver a sentença do juiz Moro?
GH: Ainda que essa sentença seja mantida no TRF4, dentro desse ativismo político do Judiciário, ainda assim o presidente Lula será candidato. Ninguém pode impedi-lo antecipadamente de registrar sua candidatura. Uma candidatura que vai nascer no dia 15 de agosto e, até lá, estará andando o país, conversando com as pessoas e falando de sua pré-candidatura. E mesmo que ele registre a candidatura venha a ser embargado, questionado, tenha problemas, teremos tempo para recurso. O presidente Lula ficará candidato. Não é que não queiramos falar em Plano B, não existe. Jamais vamos admitir que o grande líder popular que é Lula, com a projeção de votos que tem, possa ser substituído.
OD: Então o PT acredita que chegará um ponto que, nem mesmo do ponto de vista jurídico, sará impossível inviabilizar a candidatura? Ela se tornaria irreversível?
GH: Com certeza. Até pelo apoio popular que tem.
OD: E qual o ponto de não retorno?
GH: Acho que depois que registrar a candidatura do presidente é muito difícil acontecer qualquer coisa. Claro que estamos vivendo num estado de exceção no Brasil, né, mas do ponto de vista da democracia internacional seria algo insustentável.
OD: Como a sra. vê os outros nomes colocados na disputa?
GH: A gente respeita todas as candidaturas, todos os partidos são legítimos de apresentar candidatura, de esquerda ou de direita. Mas na realidade os candidatos apresentados até agora carecem de confiança da sociedade. E de representatividade. O povo brasileiro não se vê representado por eles. Tirando o (Jair) Bolsonaro, que radicalizou numa pauta e cresce um pouco mais, mas mesmo assim tem suas limitações, os demais não conseguiram mostrar ao povo o que vieram.
OD: O presidente Michel Temer voltou a ter uma agenda extra-oficial, no final de semana, novamente com o ministro Gilmar Mendes, e consta que o tema teria sido, mais uma vez, a ideia do semipresidencialismo, ou semiparlamentarismo…
GH: Eles não deixam de tentar inviabilizar um governo democrático e popular, né – principalmente em se tratando do presidente Lula. Como não estão conseguindo tirar o Lula do jogo, nem desestabilizar a eleição, vão querer vir com essa história de semipresidencialismo. Isso é um outro golpe à Constituição brasileira. Essa gente é muito predisposta a dar golpe. Não sabe viver na democracia. É escandaloso isso.
OD: Depois de tudo o que o PMDB fez com o PT, do Eduardo Cunha ao Temer, faz sentido que o PT, como tem feito Lula, ainda busque e costure alianças regionais com o partido, ainda que para eleger o presidente?
GH: Nossas alianças prioritárias são com os partidos progressistas e de centro-esquerda. Mas temos situações, como no meu estado, onde o PMDB é representado pelo Roberto Requião, que foi uma pessoa que esteve ao nosso lado em todas as lutas. Vamos ter que analisar os casos de forma muito específica em cada estado. Em condições normais não temos condições de fazer nada com o PMDB.
OD: E como explicar para o eleitorado a aproximação do presidente Lula com Renan Calheiros, em Alagoas, ou José Sarney, no Maranhão..?
GH: A aproximação é deles com o presidente Lula, e não o contrário. E não faremos parte de nenhum governo do PMDB, nem mesmo localmente.
OD: Temer tem demonstrado grande preocupação com o que chama de legado, sua marca para a história, que ele acredita será a estabilização da economia e a realização de parte das reformas com que pressiona o Congresso. Como a sra acha que será lembrado o governo Temer?
GH: Ele já entrou para a história: como o pior presidente que o país já teve. O presidente do golpe, o presidente que rasgou a Constituição brasileira, o presidente que retirou direitos da população.
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Tentativa de Golpe?
Como Temer será lembrado?
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