Quando o plenário do Supremo Tribunal Federal reiniciar, na quarta-feira, 4, o julgamento do habeas corpus preventivo com o qual o ex-presidente Lula quer evitar sua prisão após condenação pela segunda instância da Justiça Federal, o coordenador da força tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, iniciará um jejum. O procurador, que tem feito intensa campanha nas redes sociais para que o STF não conceda o habeas corpus a Lula, aproveitou o domingo de Páscoa para contar que ficará sem comer e fará orações pela decisão que pode levar à prisão do ex-presidente. “O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país”, escreveu. Ele chama a próxima quarta de “Dia D da luta contra a corrupção” e defende a tese de que “uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos jamais serão responsabilizados” na Lava Jato. Dallagnol tem direito ao seu jejum. E também a querer ver Lula preso, a quem já apontou como “comandante máximo” e “grande general” da “propinocracia”. Ao juntar as duas coisas, porém, o jejum – símbolo de penitência cristã – e a prisão do ex-presidente, dá margem a quem, com ou sem razão, o acusa, e a membros da Lava Jato, de promover uma perseguição política ao PT e pessoal a Lula.
Dallagnol é membro, desde a infância, da Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba, e já admitiu, durante um culto, que cogita virar pastor evangélico. Já há alguns meses, Dallagnol tem feito uma peregrinação por igrejas evangélicas, uma palestra que intitula “Liderança Corajosa”, em busca de apoio às suas 10 medidas de combate à corrupção. Com o apoio de um powerpoint. A imagem de um procurador jejuando para inspirar os ministros do Supremo a tomar uma decisão que acredita ser a mais acertada é forte. Se vai influenciar algum dos 11 membros da nossa Suprema Corte, não se sabe. Dallagnol já conseguiu ao menos um apoio declarado. “Caro irmão em Cristo, como cidadão brasileiro e temente a Deus, acompanhá-lo-ei em oração, em favor do nosso País e do nosso Povo’, escreveu o juiz carioca Marcelo Bretas, “o Moro do Rio”, frequentador da Comunidade Evangélica Internacional da Zona Sul, no bairro do Flamengo.
Dallagnol tem feito dezenas de tweets sobre o tema e “retuitado” quem compartilha da sua opinião – num volume tal que ganha ares de campanha. Promoveu, inclusive, um abaixo assinado a favor da prisão após condenação em segunda instância. Em sua página oficial no Twitter, reproduz, por exemplo, entrevista do diretor de cinema José Padilha, autor da controversa série “O Mecanismo”. “Temo o que pode ocorrer se o STF derrubar a prisão em 2.ª instância”, diz Padilha, com ares de doutor. Dallagnol também gosta de compartilhar posts do site O Antagonista, cuja linha anti-PT e anti-Lula é mais do que conhecida.O último tweet do procurador reproduz a manchete do Correio Braziliense de 16 de março de 2017, “Políticos com foro ficarão impunes se nada mudar”, frase extraída de uma entrevista sua. Também lincou um artigo seu escrito para o portal UOL, levado ao ar nesta segunda, 02, com o título “A decisão no caso Lula e a impunidade sistêmica”. Dallagnol argumenta que sua luta não é pela prisão de Lula, mas contra a impunidade. “Mudar o precedente de 2016, sem qualquer alteração na realidade ou no Direito, e postergar ainda mais o momento da prisão seria uma escolha clara em favor de uma interpretação cuja principal força é proteger os poderosos”, pontua. Dallagnol pode estar certo. E tem capacidade de convencimento suficiente para dispensar um jejum político.