A eleição das fake news?

O cientista político gaúcho Paulo Moura

O cientista social gaúcho Paulo Moura acha que, depois de muita expectativa e alguma decepção sobre sobre o peso das mídias sociais nas últimas eleições, desta vez, no acirrado pleito de 2018, elas assumirão forma decisiva para quem soube usar – aliás, quem ainda não está usando já está perdendo a guerra. Mais do que isso, ele teme por um derrame de fake news, sem que a Justiça Eleitoral tenha estrutura para coibi-la. “Mesmo com todo o esforço, a capacidade para controlar a difusão de notícias falsas é aquém do necessário”, diagnostica o mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor de comunicação estratégica e marketing digital, com larga experiência em campanhas eleitorais.

Nesta conversa com Os Divergentes, Paulo também analisa o quadro eleitoral, ainda em aberto, mostra-se pessimista quanto à continuidade do ex-presidente Lula na disputa e diz que, mesmo restrito a uma faixa do eleitorado, o deputado-capitão Jair Bolsonaro tem sim chances de ser catapultado a um segundo turno. No fundo, tudo depende do futuro de Lula, e do intrincado jogo jurídico-eleitoral que se seguirá à sua possível condenação em segunda instância.

Os Divergentes: Nesta campanha, as mídias sociais finalmente farão a diferença? Vendo o que vemos hoje nas redes, será a eleição das fake news?

Paulo Moura: As mídias digitais terão peso inédito para quem souber usar. Elas são ferramentas de relacionamento e não de simples comunicação unidirecional. O cérebro de maioria dos políticos brasileiros é analógico ainda. Mesmo as agências de publicidade tradicional apresentam enorme dificuldade de lidar corretamente com as ferramentas do marketing digital. Quem sabe usar já deve estar usando. De nada adianta cair de para-quedas na véspera da eleição. Haverá muita fakenews. Mesmo com todo o esforço, a capacidade da Justiça Eleitoral para controlar a difusão de notícias falsas é aquém do necessário.

OD: E a TV aberta, qual o seu peso real hoje?

PM: A TV aberta ainda tem grande audiência, especialmente entre as classe populares, e o rádio atinge muita gente no interior do país e nos automóveis dos centros urbanos. Não se deve menosprezar seu poder de influência, ainda que a nova legislação tenha reduzido o tempo da propaganda nessas mídias tradicionais.

OD: Tem se especulado que, mesmo em caso de uma provável condenação em segunda instância, o ex-presidente Lula dificilmente deixaria de disputar a campanha ‘sub judice’. O sr concorda com isso?

PM: O PT vai tentar todas as manobras jurídicas possíveis para garantir que Lula concorra. Todos os indicativos deduzidos das decisões anteriores do TRF4 apontam para condenação de Lula. O PT avalia isso e apenas torce para que a decisão seja por dois votos a um para gerar controvérsia. Pela Lei da Ficha Limpa, condenado por órgão colegiado não pode concorrer. O problema de Lula é que um candidato condenado em segunda instância, se eleito, não pode assumir. Ou seja, o eleitor que votar num condenado estará jogando seu voto no lixo. E isso enfraquece muito a eventual candidatura de Lula.

OD: O PT tem repetido que uma eleição sem Lula – presidente duas vezes e líder com ampla margem nas atuais pesquisas de intenção de voto – é uma eleição ilegítima. O sr. concorda ou discorda dessa tese?

PM: Absolutamente não. Ilegítimo seria permitir que um condenado concorra e, pior, tome posse do cargo.

OD: Sem Lula, qual seria o, digamos, “Plano B” do PT?

PM: O PT já deixou claro que não tem plano B. A Lei Eleitoral permite a um partido trocar de candidato até, se não me engano, 23 dias antes da votação. Lula prefere Jaques Wagner, mas ele não quer correr o risco de ficar sem foro privilegiado. (Fernando) Haddad é uma possibilidade.

OD: Jair Bolsonaro tem chances reais na disputa?

PM: Bolsonaro tem um exército de discípulos fiéis que o seguirão até o fim, pois defendem-no de forma emocional. Esse contingente é de cerca de 10% dos eleitores. Recentemente ele agregou um contingente adicional que varia conforme o instituto de pesquisa. O que explica esse fenômeno é a decepção com a política tradicional, o ambiente de insegurança pública e a ilusão de que um indivíduo sozinho é capaz de consertar o Brasil. Com os índices que tem nas pesquisas nesse momento, Bolsonaro tem sim chances reais de ir ao segundo turno.

OD: Michel Temer terá algum peso, ainda que como eleitor influente, na sua sucessão, apesar da baixíssima popularidade?

PM: Devido ao desempenho da economia, a popularidade de Temer pode melhorar, mas, não creio que a ponto de ele ter peso decisivo como cabo eleitoral. No entanto, não menosprezo o peso das máquinas do governo federal e do PMDB apoiando um alternativa de centro aliada a outros partidos, tendo muito tempo de TV e o grosso do Fundo Eleitoral. Se essas forças se unirem em torno de (Geraldo) Alckmin, some-se aí a máquina do governo de São Paulo, a máquina do PSDB e mais muitos milhões do Fundo Eleitoral. O eleitor quer algo novo e nessa aliança nada haveria de novo, pelo contrário. Mas, é uma força considerável e capaz de levar um nome ao segundo turno. Especialmente se Lula estiver fora da disputa.

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