O Diretório Nacional do PT se reunirá nesta segunda, 23, em Curitiba, 16 dias depois da prisão de Lula, para reafirmar solenemente sua candidatura presidencial, decidida em dezembro. O ato não deixa brechas para se falar, por hora, em plano B. Segundo membros do Diretório Nacional ouvidos – Lula é o presidente de honra -, a razão primeira é o principal mantra do PT hoje: Lula é inocente. A sentença do juiz Sérgio Moro e do TRF-4, acreditam, tem de ser revista, porque está cheia de vícios, nulidades e ilegalidades. As pesquisas Datafolha e Vox Populi serão usadas como argumento de que a maioria da população acredita que não há provas contra Lula e que ele é um preso político. E que retira-lo da disputa, seria uma fraude eleitoral.
“Discutir um Plano B ou o apoio a candidato de outro partido, neste momento, seria aceitar a condenação ilegal e injusta. Se há algo que une o PT e sua militância, neste momento, é a candidatura do Lula. Quem não gosta, que aguarde os prazos da lei”, aponta um dirigente petista. Lula só poderá ser declarado inelegível depois do registro da candidatura, que será feito em 15 de agosto. Até lá, é Lula. Depois, diz o mesmo dirigente, “vamos ver qual será a conjuntura”.
“Chegará o momento em que convirá decidir, em definitivo, entre aprisionar-se com Lula ou escolher um dos seus para substitui-lo, como já propõem alguns”, escreveu o colunista Jânio de Freitas, na Folha.
Após o julgamento do recurso da defesa de Lula no TRF-4, no dia 24 de janeiro, com votos coordenados dos três desembargadores, o PT já havia divulgado nota, assinada pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann, reafirmando a candidatura Lula. “Não nos rendemos diante da injustiça. Lula é o candidato.” A última nota da Comissão Executiva Nacional do PT, de 9 de abril, dois dias depois da prisão de Lula, também persistiu em Lula como única opção.
Barrados na Pefelândia – O comportamento da juíza Carolina Lebbos, responsável pela custódia do ex-presidente Lula, na 12ª Vara de Execuções Penais, tem sido, no mínimo, questionável. Nesta quinta, 19, ela conseguiu barrar duas visitas simbólicas a Lula: Adolfo Perez Esquivel, 87 anos, Prêmio Nobel da Paz de 1980, e Leonardo Boff, 79 anos, um dos pais da Teologia da Libertação. Esquivel já havia tentado ver Lula na véspera. Velho amigo do ex-presidente, o escritor e teólogo Boff ainda argumentou que veio em missão espiritual, para orientações humanitárias de cunho religioso. Não adiantou. A imagem de Boff, desolado, sentado na portaria da Superintendência da PF, em Curitiba, diz mais do que mil palavras.
A advogada Tânia Mandarino, que presta apoio jurídico a Esquivel no Brasil, diz que chama a atenção o fato de que o pedido para a visita pessoal do argentino à Lula ter sido protocolado antes e ainda não ter sido apreciado. “É preocupante essa conduta, porque Esquivel é apenas a primeira de muitas visitas internacionais que irão ocorrer ao ex-presidente Lula”. A advogada viu componentes de sadismo na conduta da juíza Carolina Lebbos. Diante de embargos da defesa, informando que Esquivel não ficaria muito tempo no Brasil, a juíza respondeu que é “problema do Esquivel se ele está só de passagem”.
Ontem foi o dia de visita de familiares, prevista em lei. Os filhos Sandro Luís e Luís Cláudio da Silva, as noras Renata de Abreu e Marlene Araújo e um neto visitaram Lula em sua cela de 15 metros quadrados na Superintendência da PF, acompanhados do advogado Cristiano Zanin Martins. Na última quinta, 12, Lula havia sido visitado pelos filhos Luís Cláudio, Fábio Luís e Lurian Cordeiro da Silva e um neto.
Mônica Bergamo na Folha, escreveu que ex-presos da Operação Lava Jato acreditam que “em pouco tempo Lula não suportará a solidão”, consequência de seu isolamento em uma sala especial da PF de Curitiba. Na opinião dos mesmos condenados, ainda de acordo com Bergamo, “Lula demorará a entender que talvez fique um bom tempo preso”. Segundo eles, é a fase mais dura da prisão pois todos os que entram no sistema acreditam que podem sair dele em curto espaço de tempo.