Daciolo, o candidato lisérgico, e a excêntrica invenção da Ursal

Em longo texto publicado em suas redes sociais no dia 03/08, Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT, dolorido pela rasteira que levou de Lula e do PT na disputa pelo PSB, afirmou que a burocracia do PT vivia uma “viagem lisérgica”. Mal sabia Ciro, mas havia apontado suas baterias anti-psicodélicas para o partido e o homem errado. Uma pergunta feita, de supetão, ao candidato do PDT no debate da Band, no dia 09/08, pelo até então desconhecido Cabo Daciolo, provocou uma avalanche nas redes sociais e uma onda de memes que dificilmente será superada na campanha. Literalmente, não se fala de outra coisa.

“O que você (Ciro) pode falar sobre o Plano Ursal? Tem algo a dizer para a nação brasileira?”, emparedou Daciolo, olhar acusador, a um Ciro incrédulo. Daciolo, então, revelou ao Brasil, ao mundo: Ursal é a União das Repúblicas Socialistas da América Latina, uma aspiração do comunismo na América do Sul, formando uma única nação, a “Pátria Grande”. “No nosso governo, o comunismo não vai ter vez”, emendou Daciolo, que foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 2014 pelo PSol e acabou expulso do partido por divergências ideológicas. Entre o cômico e o assustado, o pedetista respondeu que “a democracia é uma delícia e uma beleza, mas tem certos custos”.

Pouco depois do debate, a equipe de marketing de Ciro postou uma fotomontagem dele com uma farda do exército soviético com os dizeres U.R.S.A.L, rebatizando-o de Cirov Gomesthev. Era a loucura perfeita para surfar na web, ainda mais depois de um debate morno – e sem Lula. “Se o Plano Ursal der certo e o Ciro conseguir transformar a América Latina num único país, a capital será Sobral (cidade onde Ciro foi criado)”. O termo “Ursal” rapidamente saltou para os assuntos mais comentados no Twitter. O Facebook criou máscaras para a foto de perfil com apoios à Ursal, com enorme adesão. Houve quem lembrasse o fato de que, com os países combinados, a nova nação seria eneacampeã mundial de futebol, com uma seleção imbatível, com craques como Neymar, Messi e Suarez. E teria um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 3,6 trilhões, à frente de países como Itália, Índia e Reino Unido.

A candidata a vice-presidente na chapa de Lula, Manuela D’Ávila (PcdoB) – como boa comunista, certamente filiada à Ursal -, que está em Buenos Aires para um encontro com o ex-presidente Uruguai Pepe Mujica – um dos prováveis fundadores da Ursal, junto com Che Guevara e Fidel Castro -, gravou um vídeo informando que Mujica aceitara ser presidente da Ursal – ela como vice, claro. Até a Ursal não dispensa o charme vermelho de Manu. O vídeo teve centenas de milhares de visualizações.

 

Não se sabe se Cabo Daciolo ex-PSTU e ex-Psol, autodenominado “fruto de um Deus vivo”, que já posou com uma biografia de Marx nas mãos, e hoje brande a Bíblia na linha “levanta-te e anda” – como fez com a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), tetraplégica após um acidente de carro em 1994 – é apenas um louco, que acredita nos seus delírios, ou se é o bobo da corte escalado para entreter a audiência e ajudar a transformar os debates eleitorais em um concurso de quem fala a maior bobagem para bombar nas redes sociais. O que ninguém entende é o que Daciolo faz num debate eleitoral. Explica-se: o Patriota atingiu o número mínimo para participar dos debates de tevê em abril, com a adesão de Pastor Eurico, o segundo deputado mais votado em Pernambuco em 2014. Criado como Partido Ecológico Nacional (PEN) em 2013, o Patriota mudou de nome formalmente neste ano na expectativa da adesão de Jair Bolsonaro. Sem conseguir entendimento com o deputado-capitão – alguém precisa urgentemente perguntar se Bolsonaro vai também denunciar a Ursal! -, a legenda ainda cogitou lançar o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, antes de optar por Daciolo.

Apesar de toda a religiosidade, a Polícia Federal deve concluir, nos próximos dias, investigação sobre suposto desvio de verba pública pelo deputado. O militar é suspeito de desviar dinheiro da cota para exercício da atividade parlamentar — conhecida como verba indenizatória — por meio de uma empresa contratada. Mas nada tirará de Daciolo, nessa campanha, o título de revelação humorística da campanha de 2018. Fontes do candidato, em transe mediúnico, revelaram a este site que Daciolo, o cabo alucinógeno, revelará no próximo debate que há um extraterrestre entre os candidatos. Em quem você aposta?

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