Em meio à aprovação à fórceps da intervenção no Rio e ao enterro em cova rasa da Reforma da Previdência, o Rio viu o reaparecimento de seu prefeito, Crivella Universal do Reino de Deus, preocupadíssimo não com a segurança do Rio, nem com o temporal que matou cariocas ou com sua segunda abstinência seguida do Carnaval – confirmando o desprezo nada religioso pela maior festa popular do Rio e do país -, mas em prestar contas de sua viagem non sense à Europa. A emenda foi pior que o soneto, sem trocadilhos com a majestosa Áustria, capital mundial da música clássica, terra de Strauss, Mozart, Mahler e Haydn, parte do Tour Crivella 2018, junto com Alemanha, Holanda e Suécia. “Enfrentei muito frio”, choramingou o patético Crivella, em sua defesa meteorológica. Uma das visitas foi à Agência Espacial Européia, piada pronta para um prefeito que todos querem ver em órbita, e longe do Rio.
Crivella não tem culpa pelo tráfico de drogas que domina os morros do Rio – embora como senador do estado nunca tenha movido uma palha para mudar isso (não me faça cócegas com seu Cimento Social) -, nem pelas chuvas acima de média em fevereiro que castigaram a cidade – embora seja o responsável por garantir uma defesa civil rápida e eficiente -, mas nada disso o absolve do absurdo de sua viagem, que nem oficial era, como ele mesmo admite. Perdido no espaço, por livre e espontâneo suicídio político ou por falta de assessoria mesmo, fez questão de lembrar um episódio grotesco, a chamada “farra do guardanapo”, um álbum de fotos que mostrou o ex-governador Sergio Cabral e secretários dançando com guardanapos na cabeça em um restaurante em Paris. As fotos, vazadas pelo ex-governador Garotinho em 2012, foram a pá de cal em um governo agonizante. Antes de ser preso, Cabral já não conseguia sair de casa, tal o nível de desmoralização.
Pois não é que Crivella, em entrevista nesta segunda, 19, resolveu explicar que sua viagem à Europa durante ao Carnaval não teve como objetivo “participar da festa do guardanapo”, mas sim servir ao povo carioca. Vamos conferir a frase lapidar. “(A viagem) era a serviço do Rio de Janeiro. Fui sem ganhar hora extra, fui mesmo em sacrifício pessoal. Eu não fui para a festa do guardanapo”, disse ele. A viagem de Crivella, e mais quatro pessoas, custou cerca de R$ 130 mil aos cofres da prefeitura. Crivella diz que foi à Europa avaliar tecnologias para a área de segurança. O Ministério Público do Rio de Janeiro, que não tem nada a ver com o momento TripAdvisor de Crivella, anunciou que vai investigar os gastos da prefeitura com a viagem.
No sábado, 17, em entrevista à Globonews, o governador Luiz Fernando Pezão, mais sujo que pau de galinheiro, chegou a comentar que, se fosse prefeito, não iria à Europa durante o Carnaval. Questionado se era uma referência a Crivella, o governador amenizou e disse que não julgaria o prefeito. Pezão também estava fora da cidade: ele passou o Carnaval em Piraí, a cerca de 90 quilômetros do Rio.
Em tempo – O governo federal recuou do anúncio que havia feito no final da manhã de segunda e informou no início da noite que não haverá mandado coletivo de prisão na intervenção federal do Rio de Janeiro. Jungmann ainda concorre a ajudante de vampiro no próximo Carnaval da Tuiuti.