“Penso que nós, o Rio Grande, sabemos fazer política de maneira respeitosa. Atirar ovo, levantar o relho, é para mostrar onde estamos nós, onde estão os gaúchos. Nós respeitamos, eles nunca nos respeitaram”.
Senadora Ana Amélia, incentivando ataques às caravanas Lula Livre, em seu estado, em discurso durante encontro do PP que definiu a pré-candidatura de Luiz Carlos Heinze ao governo do Estado, 24/03
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Algumas pessoas se lembram da cordial jornalista Ana Amélia Lemos, hoje com 73 anos, de seus tempos de serviços ao Grupo RBS/Globo em Brasília.
Era colunista e comentarista política. E boa. Deixou o jornalismo em 2010 para disputar uma vaga no Senado pelo PP. Naquele ano, foi eleita senadora pelo Rio Grande do Sul com quase 30% dos votos válidos. Surgia a Ana Amélia política, que, em pouco tempo, se mostraria, sem disfarces – o que é um elogio -, uma das forças mais reacionárias do Congresso.
Como se sabe, uma semana após ter sido rejeitado pelo empresário Josué Alencar (PR), Alckmin confirmou na noite desta quinta, 2, como uma cereja no bolo de sua entrevista para a Globonews, a senadora Ana Amélia como sua candidata a vice-presidente. Alckmin chamou Ana Amélia de “vice dos sonhos”. Depende de quem sonha, obviamente. Fato é que, ao juntar Alckmin, o candidato Opus Dei, a Ana Amélia, musa ruralista, o PSDB não pode mais ser chamado de partido de centro (centro-esquerda seria uma piada). É um partido de direita – e vamos em frente.
É bom que se diga que Ana Amélia não foi escolhida pelo Centrão, embora saia desse balaio reptiliano que representa o pior da política brasileira – grupo formado pelos partidos DEM, Solidariedade, PP, PR e PRB. O Partido Progressista, ao contrário do que você tem lido, não emplacou a senadora como pré-candidata a vice-presidente. Ela foi uma escolha dos tucanos, particularmente do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que deu seu aval. Até o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, reconheceu não haver entrosamento entre a senadora e a cúpula do partido. Em 2006, última vez que concorreu, Alckmin teve como candidato a vice o senador José Jorge (do então PFL). Tempos mais fáceis.
O PP domina atualmente, no governo tucano-peemedebista, as pastas de Saúde, Agricultura e Cidades, além da Caixa Econômica Federal. Integrantes da bancada do partido dizem que Ana Amélia tem que ser tratada como cota pessoal.
Como nada vem de graça, a senadora abriu mão de uma reeleição a alguns acertos no Rio Grande do Sul. PP e PSDB têm – ou tinham – candidatos adversários – ao governo do estado. O deputado Luiz Carlos Heinze (PP), com apoio de DEM, PSC, Pros e PSL, enfrentava, até agora, o ex-prefeito de Pelotas, Eduardo Leite (PSDB), com apoio de PTB, PRB, PHS, Rede e PPS. Assim como aconteceu com o PT e Marília Arraes, candidata que foi vítima do acerto nacional com o PSB, Heinze não gostou e disse que ainda vai consultar seus aliados. À Folha de S.Paulo, afirmou que continua pré-candidato a governador, mas que pode disputar vaga no Senado ou mesmo abrir mão de qualquer cargo. Se sacramentada, a aliança no RS é má notícia para Bolsonaro, que, com a saída de Heinze, ficaria sem palanque no estado.
Ana Amélia é gasolina na chapa alquimista. Elogiou ataques violentos contra apoiadores do ex-presidente Lula na região Sul do país e, porque Gleisi Hoffmann, presidente do PT, deu uma entrevista à TV árabe Al Jazeera, defendendo Lula, disse: “Que essa exortação não tenha sido para convocar o Exército Islâmico a vir ao Brasil proteger o PT”. Ela foi criticada por comparar árabes com terroristas. Defensora inclemente dos ruralistas, é a favor da punição a mulheres que fazem aborto fora das possibilidades legais previstas na Constituição, entre outros itens da pauta comportamental conservadora.
A convenção nacional dos tucanos acontece neste sábado, 4, e vai oficializar a chapa Alckmin-Ana Amélia ao Palácio do Planalto. E seja o que o diabo quiser.