Generais falantes viraram uma espécie de meme deste governo – como se a atonia dos civis engravatados no Planalto justificasse a exibição de bícepes de quem veste verde-oliva. A mono-quartelada da vez ficou por conta do general Paulo Chagas, que, usando o modelito de pré-candidato ao governo do DF, fala e twitta o que bem quer. O general da reserva desta vez decidiu mandar um recado nada sutil ao Supremo por conta do julgamento de recurso da defesa do ex-presidente Lula no plenário virtual da Corte.
Escreveu o general em sua conta no twitter: “CUIDADO COM A CÓLERA DAS MULTIDÕES!!! (a caixa alta é dele). Até o dia 10 de maio, saberemos se Gilmar, Lewandowski e Toffoli tomarão o partido do Brasil ou do crime. Querem boicotar a Lavajato ou fazer justiça?”. Apoiado por Jair Bolsonaro, ele é pré candidato ao governo do Distrito Federal pelo PRP.
Participam da votação eletrônica os cinco ministros da Segunda Turma do STF, colegiado composto por Edson Fachin, relator do caso, e os ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. O julgamento começou na última sexta, 4, e deve ser concluído até o dia 10 de maio. Até o momento, segundo informações vazadas do STF, os ministros Fachin e Toffoli já teriam votado contra o recurso que pretende libertar Lula. As chances de Lula, pelo menos neste recurso, se tornaram reduzidas. Pessoalmente, não acho que Fachin e Toffoli tenham se intimidado pela gritaria do general. Ainda assim, a impropriedade de sua tentativa de intimidação – ou você acha que é só opinião vinda de um formador de opinião da caserna? – é um acinte à democracia. O general Chagas, se está mesmo em campanha, parece investir no eleitorado golpista, a julgar pelos comentários ao seu tweet, de uma turba que adoraria ver uma intervenção militar ampla, geral e irrestrita no país. Em 2015, esse cidadão investiu contra a Comissão da Verdade.
No início de abril, quando o Supremo julgava o habeas corpus preventivo que pretendia impedir a prisão de Lula após condenação pela segunda instância da Justiça Federal, o recado veio do notório general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa. “Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada”. Lessa foi comandante militar do Leste e da Amazônia e presidiu o Clube Militar. Outros militares da reserva também têm se manifestado sobre o tema. O próprio comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, achou tudo muito natural. E Michel Temer, como sempre acontece diante de uma farda estrelada, permaneceu calado.