O mundo parou – não é bem assim, mas calou boa parte dele – para ver outra tentativa de uma das últimas realezas idolatradas do planeta exercitar sua sobrevida. O príncipe Harry e a atriz norte-americana Meghan Markle casaram-se neste sábado, 19, na Capela de São Jorge, no castelo de Windsor. Meghan é a mais nova plebeia a se tornar membro da realeza britânica. Primeira negra num altar de casamento real – informação que nem mesmo historiadores são capazes de confirmar com exatidão – o casamento teve um simbolismo em um mundo cada vez mais racista, xenófobo, misógino, fascista, preconceituoso.
Michael Curry, primeiro negro a presidir a Igreja Episcopal dos Estados Unidos, protagonizou o momento mais comentado da cerimônia. Ele citou o famoso discurso de Martin Luther King Jr. sobre o “poder redentor do amor” enquanto abençoava o casamento. O coro gospel The Kingdom Choir, formado por cantores negros, emocionou o público com uma versão de Stand by Me, de Ben E. King. Caçado por papparazi desde que nasceu, como foi sua mãe Diana até a morte, Harry parece ter dado a volta por cima em grade estilo, não só por fisgar a linda Meghan, mas por criar uma imagem que talvez suplante seu passado beberrão e irresponsável.
Ainda é uma das imagens mais visualizadas de Harry aquela em que ele, numa dessas bobagens juvenis, decidiu usar um uniforme nazista, com uma suástica presa à manga da camisa, em uma festa à fantasia. Tinha 20 anos e divulgou um comunicado desculpando-se pela escolha da roupa. O tabloide sensacionalista ‘The Sun’ publicou a imagem do príncipe com a manchete, ‘Harry, o nazista’. A família real britânica é literalmente caçada pelos paparazzi.
A realeza no Brasil acabou faz tempo, embora seus descendentes ainda sejam observados – e eventualmente ouvidos. Eles têm aparência européia, falam inglês e francês. Duzentos anos após dom João VI aportar no Brasil, seus hexanetos levam vidas confortáveis, a maioria na zona sul do Rio de Janeiro, onde à noite circulam por bares e boates da moda e namoram. À exceção do grupo que controla a Companhia Imobiliária de Petrópolis, os Orleans e Bragança, que recebe 2,5% sobre transações imobiliárias no centro da cidade. São patriotas, muito religiosos e conservadores.
Dom Bertrand Maria José de Orleans e Bragança, príncipe imperial do Brasil e segundo na linha de sucessão ao extinto trono brasileiro, resolveu dar um pitaco na união de Harry e Meghan Markle. “Se o príncipe Harry estivesse se casando com uma princesa, ou uma mulher de família nobre, e não com uma divorciada, a satisfação dos britânicos seria muito maior e no mundo inteiro a repercussão também seria muito maior”, diz ele, que não foi convidado para o casamento, em entrevista por telefone à BBC Brasil. Foi mais longe. “Sou católico e como católico não posso ver com bons olhos o casamento de uma divorciada. Isso é contra os princípios católicos. Nunca poderia aprovar este casamento, sob pena de não ser corente com a minha fé”, acrescentou. O Papa Francisco já disse, entre outras coisas, que os divorciados que voltam a se casar “podem viver e evoluir como membros ativos da Igreja”. Deve ter esquecido de enviar memorando à realeza brasileira.
Dom Bertrand, principal agitador de encontros pela restauração monárquica, acha que a República “fracassou” e defende a volta das cabeças coroadas. Ouvindo suas palavras, tenho medo de um império desses. Darth Vader perde.