O maior risco é não ter vacina

Qualquer medicamento que pode curar pode trazer reações adversas, mas as estatísticas provam que as vantagens são maiores que as desvantagens

Nessa briguinha ridícula em que nos metemos, estimulada pelo presidente que pula no mar, come pastel na rua e sai abraçando todo mundo (desde que devidamente amparado por seguranças e antecipadamente verificado o ânimo da galera), lembrei de alguns fatos envolvendo pessoas próximas a mim.

Falo da provinciana questão entre tomar vacina ou não.
Recebi e compartilhei recentemente em minhas redes sociais o texto de um colega, em que é abordada, de forma simples e direta, a história e a importância das vacinas para a humanidade. Aproveito para recomendar, além do livro que ele citou (A história da humanidade contada pelos vírus, de Stefan Cunha Ujvari), um romance do Javier Moro, intitulado À flor da pele, em que o autor relata a descoberta da vacina contra a varíola, a primeira de todas.

Guimarães Rosa

Muitas pessoas seguem o exemplo do presidente e se posicionam contra a imunização, alegando riscos e perigos de uma vacina recém-descoberta. Antes de tudo, é sempre bom lembrar Guimarães Rosa, que, através de seu Grande Sertão, nos ensinou que viver é mesmo, e sempre, muito perigoso! Dito isto, volto aos episódios que me levaram a essa reflexão.

Há alguns anos, um tio meu foi diagnosticado com câncer na bexiga, pelo que me lembre não era nada tão grave, mas os médicos recomendaram cirurgia para a retirada do tumor. O procedimento foi um sucesso, mesmo assim foram sugeridas sessões de quimioterapia como profilaxia, para o caso de terem restado algumas células cancerígenas. Ele, que reagiu muito bem à operação, não resistiu à quimioterapia e acabou falecendo. Apesar dessa triste experiência, reconheço que os tratamentos quimioterápicos têm salvado, curado e dado boa sobrevida a muitos pacientes, dentre eles muitas pessoas do meu convívio.

Uma amiga foi diagnosticada com leucemia muitos anos atrás, passou pelo autotransplante de medula óssea, e vive muito bem até hoje. Ela me contou que, à época, nem todos os pacientes internados no mesmo hospital, que passaram pelo mesmo procedimento, sobreviveram.

Minha mãe tinha um problema cardíaco grave e poderia infartar a qualquer momento. O cardiologista recomendou a cirurgia, nos tranquilizando que a chance de morrer em decorrência do procedimento era de menos de 2%. E ela morreu. Um médico amigo me consolou alegando que ela tinha de tentar viver mais e melhor, pois as chances de dar certo eram enormes, foi o que ela fez e o que a maioria das pessoas fazem, normalmente com sucesso.

Contei essas histórias para lembrar que a medicina está aí para melhorar nossa qualidade de vida e aumentar a expectativa de sobrevivência, apesar de às vezes dar errado.
Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro aumentou 31 anos desde 1940. Isso graças aos avanços da medicina e da indústria farmacêutica, dentre outros fatores.
Qualquer medicamento ou procedimento que pode curar pode trazer reações adversas ou matar, mas as estatísticas provam que as vantagens são imensamente maiores que as desvantagens.

Por isso sou uma entusiasta da ciência e da forma como chegamos rapidamente à possibilidade de imunização contra a COVID. Torço para que, apesar de todo o esforço do atual governo em nos manter na rabeira da história, a vacina chegue logo ao Brasil e nos devolva a tranquilidade e a normalidade que perdemos desde que o coronavírus apareceu por aqui.

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