ESG – uma ideia cujo tempo chegou

A diversidade traz uma consequência positiva: inovação. Muita gente com histórias, prioridades e experiências diferentes de vida trazem outros olhares para novos produtos e serviços, muito fora da reduzida caixa dos privilegiados pelo nascimento.

Marcelo Zenkner – Foto Divulgação

Numa entrevista recente com Marcelo Zenkner, Conselheiro do Ibef em ESG e advogado do Escritório TozziniFreire Advogados de SP, no programa Estúdio 360 Inovação, perguntei sobre exemplos de casos na Petrobras, onde foi Diretor de Integridade e Compliance, sobre diversidade de gênero. Ele citou a ocasião em que uma gerente sua propôs substituir a nomeação de uma mulher com oito meses de gravidez, para um cargo onde ela seria a indicada natural pela meritocracia, por outra pessoa, considerando o afastamento iminente para licença maternidade. A resposta é uma lição sobre as sutilezas hoje exigidas nesses relacionamentos. A decisão foi de nomear a grávida, colocá-la em licença e nomear um substituto até a sua volta.

Trabalho escravo infantil

As exigências sobre a questão ambiental, o E do ESG, têm sido muito disseminadas e já bastante conhecidas. As questões do S, o lado socialmente responsável, nem tanto.
Alguns temas até que já são reconhecidos nas suas consequências, como o reflexo negativo para os negócios de uma empresa que usa trabalho escravo ou infantil, como aconteceu recentemente com a vinícola gaúcha. Ou o tratamento criminoso a pessoas negras em lojas e supermercados.

Mas e o problema da diversidade, como o caso sutil no início do artigo? Quando a Magalu fez o seu processo de admissão de trainees especialmente para pessoas negras, foi um alvoroço. Discriminação reversa, empresária comunista, e outras barbaridades foram ditas por pessoas fora do seu tempo. Aliás esses temas não são puxados por países comunistas, mas por avançadas sociedades democráticas e por gigantescas empresas multinacionais. Não são só os eleitores que pressionam, mas os consumidores e cidadãos também, não fossem eles as mesmas pessoas. E vem da Geração Z, nascidos entre metade dos anos 1990 e 2010, uma grande pressão nesse sentido. Querem trabalhar em empresas que sigam a ESG e que tenham um propósito alinhado com o tema.

 

Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo – Foto Divulgação

Voltando ao Marcelo Zenkner, ele cita que o escritório de advocacia onde trabalha, um dos maiores do país, tem vagas dedicadas para negros, para pessoas trans e para refugiados, entre outros grupos contemplados com ações afirmativas. Tem convênio com a Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, onde os sócios do escritório estão comprometidos em dar aulas no curso de Direito, de modo a preparar os estudantes para serem contratados, considerando que não tiveram oportunidades iguais a outras pessoas e chegariam sem o potencial desenvolvido.
Aí temos outro critério usualmente distorcido: meritocracia. Não podemos comparar o mérito entre pessoas na fita de chegada, se elas não tiveram igualdade na largada. E nem é difícil perceber que, se metade da população for discriminada (negros são 56% da população), é metade que não contribuirá com todo o seu potencial para o desenvolvimento do país. A diversidade traz outra consequência positiva: inovação. Muita gente com histórias, prioridades e experiências diferentes de vida trazem outros olhares para novos produtos e serviços, muito fora da reduzida caixa dos privilegiados pelo nascimento.

Protesto antirracista em Brasília (DF), em junho do ano passado – Foto Leopoldo Silva/Agência Senado

O S exige de cada um de nós repensar nossos conceitos muitas vezes machistas de tratar mulheres (muitas vezes pelas próprias mulheres), exige prestar atenção na linguagem, com palavras incorporadas ao vocabulário que carregam preconceitos, exige evitar tratamentos supostamente carinhosos que carregam, na verdade, preconceito e discriminação. Dizer que antigamente dizíamos isso e ninguém se importava não é verdade, nunca perguntamos aos atingidos. Quantas pessoas foram deixadas pelo caminho com, supostamente, pequenas manifestações de racismo e preconceito, ou perderam oportunidades, por exemplo, por exigência de inglês em um processo seletivo, que limita o acesso aos mesmos privilegiados pelo nascimento?

Por fim, o G de governança serve para administrar o tema de maneira completa nas políticas e práticas das empresas. Não apenas para evitar erros, mas para agir diligentemente para mudar.

Como disse o intelectual e político francês Victor Hugo: “Não existe nada mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou”.

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. 

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