Maria-Maria

Na crônica desta semana, a autora narra um dialogo com uma Maria, ‘pessoas da família’ que moram em casas de família do nosso País.

Eu tenho um projeto que se chama “Uma Flor Por Uma Dor”, onde ‘planto’ flores de crochê nas árvores da cidade de Belo Horizonte (MG). Numa destas andanças pelas praças, conheço Maria*; mulher simpática, envelhecida para os 65 anos que diz ter. O cabelo grisalho, preso em coque com duas presilhas laterais, mostra uma mulher cuidadosa com sua imagem.

Conversadeira, quis saber o porquê das flores nas árvores.

— São flores de resistência que falam sobre as nossas vidas, nossas dores, das injustiças e das nossas alegrias.

— Ah que bonito! Minha mãe fazia cestas de palha.

E ela continua:

Casa na Roça Simples: Uma Fuga Para o Estilo de Vida Rural

— Cheguei da roça com 14 anos para morar com uma família de dinheiro, mas muito boa para mim. Este ano, em setembro, vai fazer 50 anos que moro com eles, aqui mesmo no bairro.

— Aprendi muita coisa com eles. Sei cozinhar de tudo que é comida boa, lavo roupas muito melhor do que essas lavanderias importantes e gosto muito das crianças. Já carreguei no colo os filhos dos meus patrões e hoje carrego os netos. Eles gostam muito de ficar brincando no meu quarto. Nem sei por que, já que os outros são tão grandes…?

— Eu conto história para eles, mas histórias que saem da minha cabeça, porque nunca me dei bem com as letras. Nem as do meu nome. Amanhã nós vamos para a casa de praia. Só volto depois das festas juninas. Eu gosto muito da praia, mas só vou à tardinha porque tenho que fazer almoço e deixar o lanche pronto. Aí as ondas já estão fortes, mas refresco os pés.

— Todo Natal a família se junta e me dá um dinheiro. Assim posso comprar um creme para pele, porque mesmo pele preta precisa, né!? A filha deles é dentista e me deu esta dentadura novinha! Já o filho é médico, das ‘juntas’, mas acerta muito nos remédios de tosse da minha bronquite.

— E sua família? Você se encontra com eles?

— Meus pais já estão com Deus e minha irmã mora em São Paulo. Nunca fui lá, mas ela liga pra mim. Os outros irmãos sumiram no mundo. Nossa, moça! Está na hora de passar umas peças de roupa que já estão secas. Até um dia! Fica com Nosso Senhor!

Ela se vai e eu fico pensando nas Marias, ‘pessoas da família’ que moram em casas de família do nosso País.

Fim

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