As tentações do poder

Quando se é jornalista político, a convivência com o poder e os poderosos é natural. Você acaba encontrando com as principais autoridades do país, que também passam a te conhecer. Em 32 anos de jornalismo, costumo dizer que já vi a roda da fortuna girar a minha frente inúmeras vezes, o suficiente para perceber o quanto o poder é sedutor e inebriante.

Por mais bem intencionados e até mesmo preparados, muitos dos que chegam lá, sucumbem à tentação. Infelizmente, sentem-se acima do bem e do mal, desligados do mundo dos mortais pela ‘entourage’ que costuma cercar o poder, seja ele qual for. Nem sempre esses personagens se rendem à roubalheira, mas acabam se aproveitando de alguma forma da mordomia que o poder proporciona.

E sem perceber, muitos desses poderosos ficam mal acostumados a facilidades que nem sempre o dinheiro paga. Claro que depende da quantidade de dinheiro gasto. Mas o poder ou a expectativa de poder costuma abrir portas mais rápido do que simplesmente o dinheiro.

Querem um exemplo? O passaporte diplomático, que te livra de filas e de muita burocracia na chegada à maioria dos países pelo mundo a fora.

Convites, muitos convites, muitos deles com segundas intenções veladas e que mais cedo ou mais tarde serão cobradas de alguma forma. Muito deles até inocentes e singelos como de palestras não remuneradas diretamente, mas realizadas em resorts à beira mar, acompanhado da família, com todas as despesas inclusas.

Aqui em Brasília, por exemplo, o governador, talvez um dos mais ricos que já passaram pelo cargo, decidiu criar uma carteira especial para os funcionários do primeiro escalão do GDF, extensivo à família.

Uma carteira dessa serve para que? Para resgatar as famosas “carteiradas” que muita gente dava em Brasília na época da minha adolescência, quando filhos de poderosos perguntavam, quando abordados ou impedidos da fazerem o que queriam: “Você sabe com quem está falando?”. Essa é primeira ideia que me veio à cabeça quando vi a notícia.

Diante da repercussão negativa, Ibaneis suspendeu a carteirada da família, mas manteve para os nomeados do primeiro escalão. Perdeu a chance de consertar de uma vez a iniciativa, no mínimo, controversa.

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