A única alternativa do Centrão é aprovar reforma no “calendário dos sonhos”

Rodrigo Maia, entre os colegas deputados Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro, cumprimenta o relator Samuel Moreira - Foto Orlando Brito

A coluna Painel da Folha de São Paulo informou, nesta quarta-feira, 19 de junho, que a reforma da Previdência poderá ser votada na comissão especial e no plenário da Câmara até a primeira quinzena de julho se o governo pagar antecipado cargos para partidos do Centrão. Sobre isso, é importante ressaltar que não se trata do velho toma lá dá cá, mas de um sui generis da nova governabilidade: emendas sem olhar a quem e a quem votar no texto original da PEC 06|2019 (ou numa conta fiscal aproximada, como o 1,1 tri do relatório do deputado Samuel Moreira), e indicações para o segundo escalão e nos estados sob os auspícios de critérios técnicos e com ficha limpa.

Jair Bolsonaro. Foto Orlando Brito

O executivo, supostamente, gostaria de fazer um pacote único e o tempo disso ser processado pelo Diário Oficial incrementaria uma competição entre os partidos. Naturalmente, sem fugir ao seu instinto, a nova direita quer deixar claro para a sociedade o acordo. Que houve algum achaque, mas a reforma passou e sem permitir um futuro em que o presidente Jair Bolsonaro jogue dominó na prisão, por meio de operações como a Lava Jato, com ou sem coordenação política.

Diz a coluna que o mantra da vez seria: “se o Planalto não entregar o que afiançou, ninguém vai votar no crédito”.

A situação remete ao Impeachment de Dilma Rousseff. Quando o então PMDB anunciou oficialmente a deserção da base da petista, por um minuto cósmico o Centrão pensou em recompor a gestão ocupando aqueles latifúndios vazios. O acordo chegou às raias do fato consumado, mas Rousseff teria preferido pagar depois da votação de seu destino. O resto é História.

Antes que a inteligência descanse porque a analogia parece funcionar, a diferença daquele contexto para o hodierno é que sem a reforma o Orçamento Impositivo não funcionará. Sem ele – e toma lá dá cá raiz – as municipais do ano que vem serão difíceis e 2022 mais ainda, com grande chance da nova direita de Bolsonaro, comandando a máquina federal, reeleger-se ou ficar em segundo lugar. Ou seja: consolidar sua hegemonia no eleitorado conservador e como “mal menor” ao centro liberal-democrático sobre as legendas ora em torno de Rodrigo Maia. Pior: travar a reforma de novo por toma lá dá cá será uma péssima associação, perante ao mercado, a dólar alto, rating baixo e Ibovespa mau humorada.

Sérgio Moro. Foto Orlando Brito

Assim, a reforma tem tudo para ser aprovada no “calendário dos sonhos” do governo – e do mercado, com o governo pagando no crédito. Restará ao Centrão implodir Sergio Moro e a Lava Jato (incluindo as alas chamadas históricas do PSDB, que foi reduzido a pó em 2018 por ter sido alvejado pela operação), apesar de FHC ter sido poupado por Moro e Deltan Dallagnol para se concentrarem no adversário mais forte, o PT e Lula, que estavam no governo com uma coalizão justamente com o Centrão. E só a recomposição desta coalizão, agora por fora do governo, será capaz de cumprir tal objetivo.

Caso contrário, poderão chegar a 2022 com diversos pretendentes aos mais diversos cargos públicos subjugados pela lei da ficha limpa, politicamente gerida por meio judicial para promover mais uma onda de renovação no establishment político – Ao fim e ao cabo, pretendê-la foi o único “crime” realmente cometido por Moro e Dallagnol. E assistir a Lula, preso ou solto, conduzir seu PT a um desempenho superior ao centro.

Desta forma, o outsider Bolsonaro conduz o establishment político a um wilde side.

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