Nesta quinta uma comitiva formada por senadores e deputados embarca para o Vaticano para acompanhar a cerimônia de canonização da Irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres, como será chamada pela Igreja Católica. Marcada para domingo (13), os parlamentares vão aproveitar para esticar até terça-feira. Enquanto isso, votações importantes como o segundo turno da reforma da Previdência no Senado ficarão para depois.
Nada contra a Irmã Dulce. Muito pelo contrário. A obra dela deve ser admirada e respeitada por todos, católicos ou não. Mas causa revolta ver que o discurso de austeridade serve apenas para nós, pobres mortais. Afinal, quem o caro leitor acha que vai bancar a despesa dessa turma toda lá em Roma?
Embora seja uma cerimônia meramente religiosa, sem qualquer conotação oficial do ponto de vista político, os parlamentares justificaram a viagem alegando que “a ida da comitiva ao Vaticano será um ato de representação da população brasileira”. E que mostrará à Igreja “a importância da religião católica no parlamento brasileiro”.
O argumento usado é outro ponto que deve ser questionado. Afinal, alguns parlamentares que estão embarcando no “voo da fé”, como foi batizado pelos jornalistas que cobrem o Congresso, professam o laicismo do estado.
Nos embates políticos muitos defendem que Estado e religião não devem se misturar. E está certo. Mas esse discurso muda de acordo com a conveniência.
Agora pela manhã a Câmara divulgou a lista dos integrantes da comitiva. Além de Rodrigo Maia (DEM-RJ), mais 12 deputados embarcam para o Vaticano para acompanhar a cerimônia de canonização da freira baiana.
Já o Senado informou que estão na lista os senadores Jaques Wagner (PT-BA), Ângelo Coronel (PSD-BA), Roberto Rocha (PSDB-MA), Werveton Rocha (PDT-MA), Elmano Ferrer (Podemos-PI), Ciro Nogueira (PP-PI), José Serra (PSDB-SP), Chico Rodrigues (DEM-RR) e,claro, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que vai junto com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
Alcolumbre, aliás, passou os últimos dois dias – terça e quarta desta semana – sem pisar no Congresso. Em sua rede social, justificou a ausência, informando que estava “recluso fazendo jejum e oração comemorando o Yom Kipur, o Dia do Perdão, a data mais sagrada do calendário judaico”.
De toda comitiva, o único a receber o convite oficial do Vaticano para assistir a celebração foi o senador José Serra. Em 2007, durante a visita do papa Bento XVI ao Brasil, Serra, que na época era governador de São Paulo, entregou ao papa documentos relatando os milagres atribuídos à freira e pedindo a sua canonização.