Tenho transitado pouco pela tv aberta, não por preconceito, apenas porque tem muita coisa boa rolando nos streamings, e essa propaganda eleitoral enche o saco. De vez em quando assisto o Jornal Nacional pra ver como andam as notícias na televisão. Tenho um amigo jornalista que diz que o JN pauta a vida dos brasileiros, quer gostem, quer assistam ou não.
Dia desses, transitando pelo YouTube, fui surpreendida com propagandas eleitorais. Achava que só eram obrigatórias nos canais abertos. Descobri que até lá elas nos são enfiadas goela abaixo, embora com menos frequência, me parece.
Uma delas era de uma mãe falando sobre o filho que foi perdido para as drogas, pelo que entendi ele morreu por ter se envolvido com traficantes. No final, ela dizia algo parecido com: Lula quer legalizar as drogas, ou Lula é a favor das drogas, por isso voto em Bolsonaro, que é contra. Achei um horror.
Primeiro, porque ninguém é simplesmente favorável às drogas, ou ao consumo excessivo delas, só os traficantes e, talvez, os milicianos, que se dão bem com esse comércio. (Pausa necessária: os milicianos apoiam Bolsonaro).
Segundo, quando falamos de drogas, é muito importante, necessário e fundamental que incluamos nesse rol as bebidas alcoólicas. Ou alguém acha que maconha e álcool fazem muita diferença em termos de barato? A diferença é que uma é legalizada e a outra não. Quem não conhece famílias destruídas pelo álcool?
Portanto, já existem drogas legalizadas, como o álcool. E o fato de ser legalizada ajuda a ter algum controle por parte do Estado. Por exemplo, é proibido vender bebida alcoólica a menores de idade, assim como não é permitido dirigir após beber. Além disso, há programas públicos e privados para tratamento do alcoolismo.
Existe uma discussão, que deve ser amadurecida, sobre se não seria melhor “descriminalizar” algumas drogas, para que assim o Estado possa ter mais controle sobre seu uso, assim como o álcool. Dessa forma, o poder do tráfico também seria menor.
Alguns países adotaram essa política de descriminalização de algumas drogas e têm tido resultados satisfatórios.
Repito, é um assunto cuja discussão deve ser aprofundada, e deve ter a participação de toda a sociedade.
Ao ver a propaganda eleitoral de Bolsonaro com a mãe do drogado, me deu vontade de falar para ela: se o nosso país tivesse uma política antidrogas que não se preocupasse simplesmente em criminalizar o drogado e o tratasse como um doente, como todo viciado é, talvez o seu filho ainda estivesse vivo.
Não adianta achar que é só o Estado determinar que uma coisa é proibida e, voilà, ela deixará de existir. Assim acontece com o aborto e com as drogas. E, mal comparando, com os menores infratores.
Os problemas continuam a existir quer exista uma lei proibindo ou prendendo ou matando. Ou tratamos de frente, sem dogmas, mas com a compaixão e as ações necessárias, ou eles não se resolverão. É aquela velha história de tirar o sofá da sala pra filha não engravidar. Não é melhor deixar o móvel lá e conversar claramente com a moça sobre sexo e métodos contraceptivos?
Quando algumas pessoas propõem a descriminalização de drogas ou aborto, por exemplo, não é porque querem estimular seu uso ou sua prática, é porque querem justamente propor uma política que trate, sem subterfúgios, essas questões que afligem a muitas pessoas.
Essa falsa dicotomia entre esquerda e direita, como se uma fosse a favor de drogas e aborto e a outra fosse contra, deve acabar. Precisamos crescer e tratar desses assuntos como pessoas maduras. Como vivem dizendo por aí, não dá para tratar assuntos complexos com soluções e argumentos simplistas.
Se assim fosse, seria ótimo se numa canetada fosse determinado que está proibido adoecer, sentir dor ou morrer de fome.
Nossos problemas e nossa humanidade muitas vezes não cabem no Código Penal.