As intervenções do Banco Central (BC) com maior oferta de dólar, feitas nos últimos dias, tenta acalmar o mercado e dar uma resposta a preferência do ministro da Economia, Paulo Guedes, por um real desvalorizado.
A queda da taxa real de juros e o processo crescente de valorização do dólar desencadeou um movimento de retirada de investimentos dos estrangeiros na Bolsa e outras aplicações em busca de uma rentabilidade maior e mais segura nos Estados Unidos e outros países. Com menos oferta de dólar no mercado seu preço sobe.
…e o dinheiro não veio
A equipe de Paulo Guedes trabalhava, até há pouco tempo, com um discurso de que a aprovação da Reforma da Previdência, o ajuste fiscal nas contas públicas, a licitação do pré-sal e as privatizações eram fundamentais para atrair o capital internacional. Paulo Guedes chegou até mesmo a dizer no Fórum Econômico de Davos que o Brasil seria a bola da vez para o investimento estrangeiro.
O dinheiro dos estrangeiros não está vindo e o pior foram as declarações de Paulo Guedes a favor da desvalorização do real. A princípio, um real mais barato que o dólar contribuiria para aumentar as exportações da indústria do Brasil e dar maiores ganhos ao setor do agronegócios.
Isso deveria contribuir para aumentar o superávit da balança comercial, mas não é o que esta ocorrendo. As estimativas do BC para 2020 é de um déficit de transações correntes de R$ 57,7 bilhões, indicando que não haverá um fluxo elevado de ingresso de moeda estrangeira que possa alterar significativamente, pela lei de oferta e procura, a cotação do real. A economia continua crescendo pouco, sem ganhos de arrecadação e geração de emprego.
Todo o segmento da economia que depende da cotação do real diante do dólar, e, mesmo os investidores, ficaram com sinais opostos sobre a política cambial do Governo, pois, de um lado, o Banco Central atua para segurar a desvalorização do real, e, de outro, Paulo Guedes defende posições contrárias. Quem gosta são os especuladores do mercado.
Câmbio contra inflação
Na implantação do Plano Real, em 1994, foi adotado o câmbio fixo de US$ 1,00 para RS 1,00. O grande argumento para uso de câmbio fixo era de que contribuiria para acabar com a inércia da inflação, ou memória inflacionária.
A surpresa foi que, poucos dias após a publicação da medida, U$ 1,00 chegou a valer R$ 0,84. O Diretor da Área Internacional do BC, Gustavo Franco, deixou o real mais valorizado por um longo tempo e foi fazendo as desvalorizações de acordo com critérios que nunca foram revelados.
O que ocorreu é que todos os brasileiros tiveram um aumento do poder de compra. As importações aumentaram, mas, ao mesmo tempo, milhares de empresas nacionais perderam a capacidade de competir no mercado externo. Um grande número de empresas nacionais foram adquiridas por estrangeiros que tinham melhor tecnologia e condições de competir no mercado globalizado.
O câmbio é um preço fundamental da economia. Hoje, o sistema cambial é flutuante, mas o Banco Central, que acumulou ao longo dos anos US$ 358,9 bilhões em reservas internacionais, tem legitimidade para regular o mercado e evitar movimentos especulativos. No ano passado, o BC colou no mercado US$ 36,9 bilhões, mas as reservas do Brasil encolheram em US$ 17,8 bilhões.
A pior situação para empresários que importam e exportam é a insegurança em relação as oscilações do poder de compra da moeda.
Se os empresários compram mal no exterior terão prejuízos certos, assim como o exportador. Caso o dólar continue muito mais forte que o Real, no médio e longo prazo, as importações de bens, serviços e tecnologias tendem a cair tornando nossa economia mais fechada e com riscos de inflação, coisa que o BC não está vendo no momento.