Um dos pontos que mais chamou atenção na pesquisa Ipec, divulgada no último domingo, foi a revelação de que mais da metade dos eleitores, 57%, são favoráveis a existência de uma terceira via. Apenas 27% são totalmente contrários. O recado foi claro: tirando os fanáticos, de um lado ou do outro, ninguém aguenta mais a polarização entre Lula e Bolsonaro.
Esse resultado parece contraditório, afinal, as eleições terminaram há menos de seis meses e os nomes postos como terceira via no ano passado – Ciro Gomes e Simone Tebet – juntos não conseguiram conquistar sequer 10% do eleitorado, um verdadeiro fiasco.
Se estiverem atentos aos recados dos eleitores brasileiros, os partidos devem começar a trabalhar desde já um nome que possa se transformar em uma liderança competitiva. Ao que parece, os eleitores já não querem chegar nas urnas obrigados a escolher entre a alternativa menos pior.
Pelo lado da esquerda parece não haver opção a Lula. Na campanha, o presidente prometeu que não disputaria a reeleição em 2026, mas parece ter voltado atrás e já admite essa possibilidade. Com o ministro da Fazenda Fernando Haddad, sucessor natural, fritando em óleo quente, restarão poucas opções ao partido.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que acendeu a panela com Haddad dentro, sonha virar o “poste” de Lula em 2026. Pode até conseguir. Afinal, ela tem se mostrado uma aliada fiel e resiliente. O problema é seu temperamento, muito parecido com o do pedetista Ciro Gomes. Um alvo fácil para os adversários durante a campanha.
Pela direita, com a possibilidade cada vez mais real de que Bolsonaro venha se tornar inelegível, Valdemar Costa Neto começa a trabalhar o nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, empossada hoje como presidente do PL Mulher. É verdade que ela tem muitos telhados de vidro: os cheques nunca explicados do Queiroz depositados em sua conta pessoal, o escândalo das joias, a morte das carpas do Alvorada, entre outros.
Além disso, terá que enfrentar resistência dentro da própria casa. Além do machismo do marido, os enteados não a suportam. De qualquer forma, é um nome que vem sendo colocado. Talvez esteja servindo de boi-de-piranha para o lançamento, na época apropriada, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pela turma do Centrão.
Os partidos que não fazem parte desse eixo desde já têm a opção de trabalhar pela conquista de um espaço aparentemente vazio. Só não podem persistir no mesmo erro de se separarem por vaidades e picuinhas, o que só ajuda a manter a atual polarização entre Lula e Bolsonaro. E isso é tudo que o Brasil não precisa.