Os grandes beneficiários dos acertos do governo do Bolsonaro em 2019 foram os bancos, os especuladores no mercado de capital e o Tesouro Nacional. A aprovação da reforma da previdência e a redução das taxas de juros para 4,5% ao ano, as mais baixas da história, graças à queda a inflação, contribuiu para que estes três segmentos provocassem uma visão mais otimista da economia do que de fato verificada.
O setor produtivo andou de lado, mesmo com tímidos sinais de recuperação do setor imobiliário e da agricultura. O desemprego de 11,9 milhões de pessoas e baixo crescimento da massa salarial indicam que o consumo não deve aumentar, e, com isto, os empresários continuam com o freio de mão puxado.
Sem consumo, sem inflação
A inflação em queda nada mais é do que o reflexo de que não há renda para sancionar aumento de preços. Como a economia vai mal, a autoridade monetária vê oportunidade de reduzir a taxa Selic, mas nada faz em relação à liberação dos compulsórios, o que de fato seria uma ajuda de grande valia para reduzir o preço do dinheiro ao tomador final.
Assim, o Banco Central pode reduzir as taxas de juros por entender que não terá ameaças de inflação. O efeito da queda das taxas básicas de juros em 2019 contribuiu muito pouco para estimular o crédito e o consumo, uma vez que os elevados spreads bancários inibem os empresários e os consumidores a recorrerem a empréstimos para investir e consumir. Os dados do Banco Central de novembro indicam que, apesar da queda da Selic, os empréstimos à pessoa física ficaram mais caros neste final do ano.
O fato é que a redução das taxa de juros ao longo do ano teve um grande impacto no mercado para quem toma e empresta dinheiro. Com queda da rentabilidade e algumas aplicações com juros negativos, as instituições financeiras passaram a ver a oportunidade de deslocar este dinheiro de correntistas para aplicações com promessa de rentabilidade maior.
Muitos recursos administrados pelos bancos foram aplicados em fundos de investimentos de riscos, em debêntures e ações, o que explica em grande parte a economia crescendo 1,17% em 2019 e a bolsa de valores batendo recorde de 118 mil pontos. A Petrobras, por exemplo, fez a emissão de R$ 4 bilhões em debêntures com remuneração de 3,6% ao ano mais a variação do IPCA. O prazo do papel é de 10 anos.
Dificilmente a Petrobras vai dar um calote, mas há um risco que não existe nos papéis do Tesouro Nacional. Já o mesmo não se pode dizer de centenas de empresas que estão tomando recursos no mercado.
Bancos não perdem nunca
Não precisamos falar dos riscos de pessoas sem experiência, e mesmo os experientes, que passaram a aplicar em ações em busca de melhores resultados do que a rentabilidade de 80% da taxa Selic, hoje em 4,5%. Os agentes do mercado financeiro diziam, no começo de 2019, que a economia iria crescer o equivalente a 2,55%. O que se viu foi um crescimento estimado de 1,17%. Para 2020, estão apostando que a economia vai crescer a 2,5% do PIB.
Os bancos, as corretoras e os especuladores do mercado do financeiro quando fazem estas projeções otimistas estão de olho nos ganhos de taxas de administração nestas operações e em fundos. Com taxa de juro alta ou baixa, com crescimento ou não, o deles está sendo garantido. Sem falar que estão sempre protegendo seu patrimônio nas operações de “comprados e vendidos”.
Juros baixos, dívida em queda
A redução dos juros, como comemorou recentemente o presidente Jair Bolsonaro, independentemente dos efeitos futuros sobre a ampliação da demanda na economia, contribuiu para reduzir os gastos do Tesouro Nacional na rolagem da sua dívida em 2019 e deverá dar uma ajuda ainda maior em 2020. Bolsonaro estimou em R$ 100 bilhões a economia dos cofres públicos.
A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, vendeu a ideia de que, com a aprovação da reforma da previdência, os investidores estrangeiros e nacionais iriam liberar os investimentos promovendo um grande impacto na economia. O que se viu é que a reforma contribuiu muito mais para dar segurança à banca nacional e internacional do que para garantir ao Brasil capacidade de honrar seus compromissos com a dívida, que hoje equivale a 77% do PIB.
Pode ser quer haja um aumento dos investimentos, pode ser que a bolsa continue crescendo, mas os riscos permanecem no horizonte. Em quanto o Brasil não conseguir crescer em um patamar de 4% a 5% do PIB continuará com milhões de desempregos, renda estagnada e arrecadação insuficiente para reequilibrar suas contas, que hoje estão no vermelho.